Barba, cabelo e bigode com modelo de multinacional
A Confraria da Barba, rede fundada por executivos de grandes empresas, é pautada em gestão eficiente, com indicadores de desempenho, uso de tecnologia e inovações sutis, mas que fazem a diferença junto à clientela
O que leva executivos de multinacionais, sem nenhum conhecimento no mercado de beleza, fundar uma rede de barbearias?
A resposta: profissionalizar o máximo possível um segmento tradicional inserido em um mercado bilionário.
E como fazer isso? Usar todo o conhecimento adquirido em diferentes setores para desenvolver um negócio pautado em gestão eficiente movido a inovações capazes de cativar o consumidor.
É esta a história da Confraria da Barba, fundada em 2014 em Campinas, no interior paulista. Em cerca de dois anos, a rede, que atualmente possui dez lojas, alcançou receitas de R$ 2,5 milhões. Até dezembro, a expectativa é que a marca chegará a 30 unidades no país.
E ainda há muito espaço para conquistar. De acordo com a Euromonitor International, o mercado de beleza masculino brasileiro movimentou 5 bilhões de dólares em 2015. A estimativa é que o segmento crescerá 7,1% ao ano até 2019.
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Para fincar bandeira no território dos homens que prezam pela boa aparência, por trás do visual suntuoso dos salões, com poltronas de couro preto, mesa de sinuca e bar com cerveja premium, a Confraria da Barba utiliza um complexo sistema indicadores de desempenho.
O tripé baseado em monitorar, medir e analisar tem como objetivo, além de aumentar a rentabilidade do negócio, fidelizar a clientela.
O principal número mensurado é o crescimento das receitas e o tíquete médio. Há também o zelo com estoques. A empresa possui indicadores de rotatividade de produtos e de capacidade de atendimento dos fornecedores.
Em termos de pessoal, há o indicador de fidelização de barbeiros, que exibe o percentual de clientes referenciados – aqueles que fazem questão de ser atendidos por determinado profissional.
O indicador reflete a capacidade que o barbeiro tem de cativar clientes e atesta sua qualidade e experiência. Aqueles que não conseguem bons resultados, são orientados individualmente.
Já houve casos, por exemplo, que o problema era apenas uma leve timidez de um profissional com pouca experiência.
“Neste caso, orientamos o barbeiro a ser mais sociável, dialogar e sentir o humor do cliente durante o atendimento”, afirma Rafael Falk, sócio da Confraria da Barba. “Pequenas ações já geram resultados positivos”.
Outro índice monitorado cuidadosamente é o retorno de clientes – o número de consumidores que retornam a barbearia em 45, 60 e 70 dias. Atualmente, 65% da clientela frequenta o estabelecimento a cada 45 dias.
Todos os indicadores são processados por um sistema de gestão, que os executivos já utilizavam em outras companhias.
Antes de ser empreendedor, Falk fez carreira no mercado de auditoria. Ele passou pela BDO, KPMG e PwC – onde participou do projeto de fusão entre Americanas e Submarino.
Pouco tempo depois, se tornou diretor executivo da Imerys, mineradora multinacional de origem francesa.
A partir de 2014, Falk migrou para o varejo e assumiu a área de controle financeiro para América Latina da rede de óticas GrandVision.
Em 2014, a experiência acumulada foi usada para desenvolver a Confraria da Barba junto a mais cinco sócios – entre eles Ronal Balena, diretor de novos negócios da Bosch, e Douglas Balena, fundador da desenvolvedora de softwares Resultados Digitais.
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USO DE TECNOLOGIA
A Confraria da Barba possui um aplicativo próprio que permite que clientes agendem serviços – uma opção a mais além do telefone e Whatsapp. Antes do aplicativo, o agendamento de serviço era responsabilidade das recepcionistas.
“Uma pessoa agendando horários não agrega valor nenhum ao negócio”, diz Falk. “A tecnologia permite que as funcionárias tenham tempo livre para oferecer produtos e explicar nossos pacotes de serviços para os clientes que entram no salão.”
O aplicativo também coleta dados dos consumidores: nome, frequência de consumo e unidades prediletas. O cliente pode receber notificações por e-mail e SMS quando permanece mais de 45 dias sem ir à barbearia.
Em breve, será integrado ao aplicativo um programa de fidelidade digital. Conforme o nível de consumo, o cliente poderá trocar pontos por produtos e serviços.
DETALHES FAZEM A DIFERENÇA
Em abril, a Confraria da Barba abrirá sua primeira unidade em São Paulo – um mercado muito mais competitivo que o de Campinas, por exemplo.
Falk diz não temer as renomadas barbearias paulistanas, como Nove de Julho, Cavalera e Garage.
De acordo com Falk, grande parte dessas barbearias segue um padrão semelhante: possuem visual retrô e com estilo caricato.
Já a Confraria da Barba se apresenta como uma barbearia contemporânea, com profissionais que seguem a risca um dress code mais formal: calça de alfaiataria, camisa, gravata e colete.
Todos os profissionais também usam luvas e máscaras cirúrgicas para evitar risco de contaminação.
Os cortes de cabelo possuem garantia de sete dias. Se o cliente não gostar do resultado do serviço, tem até uma semana para ajustar a cabeleira sem custo.
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Há também o serviço Dia do Noivo: o aluguel de uma sala reservada para homens reunirem familiares e amigos antes do casório.
O pacote pode incluir serviços de barbearia, limpeza de pele, manicure, pedicure e maquiagem – mais comes e bebes. O custo médio costuma variar entre R$ 500,00 e R$ 1.500.
Outra diferença sutil, mas que Falk afirma ser bem valorizada pelos homens, é ter apenas assistentes mulheres. As profissionais são responsáveis, entre outras atividades, pela lavagem de cabelos e massagens relaxantes.
O empreendedor acredita que seus maiores concorrentes ainda são os salões de beleza unissex.
“Embora atendam um grande contingente de homens, esses espaços possuem ambiente, produtos e serviços focados em mulheres”, afirma Falk. “Queremos que os homens migrem de estabelecimento e se tornem nossos clientes.”
Nessa briga, lidar bem com barba, cabelo e bigode está se tornando um negócio cada vez mais sério.