‘Ainda vamos ter alta de preços, influenciada por expectativas’
Para o economista Juarez Rizzieri, pesquisador da Fipe, o país só voltará a ter inflação ao redor de 2,5%, como em 2006, se tiver política econômica bem conduzida e executar o ajuste fiscal
Nesta semana, as instituições financeiras reviram para baixo a projeção de inflação para este ano e 2017.
A previsão para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) caiu de 7,08% para 6,98% em 2016 e de 5,93% para 5,80% em 2017, de acordo com o boletim Focus, divulgado na última segunda-feira (25/04) pelo Banco Central (BC).
Quem frequenta os supermercados, porém, está longe de achar que a tendência é de queda de preços. Até mesmo para os supermercadistas, os economistas de bancos correm o risco de errar feio nas previsões de inflação, principalmente para este ano.
“Desde o início do ano, as tabelas de preços dos fornecedores apresentam reajustes da ordem de 15%. Até o ano passado, os aumentos eram de 2%, 3%, 5%, no máximo”, diz Luciana Yoneta, proprietária do supermercado Yoneta, localizado em Carapicuiba.
“Todos os fornecedores estão dando uma ‘beliscada’ nos preços”, diz Flávio Augusto Pandolfi, gerente-geral do supermercado Yamato, localizado no bairro do Jabaquara.
De acordo com ele, a maior pressão provém das indústrias de laticínios, com reajustes de 8%, em média, e de distribuidores de hortifrútis, com altas que superam 100%.
O vilão da vez, de acordo com Luciana e Pandolfi, é a batata. A saca de 50 quilos, que custava R$ 180 na semana passada no Ceasa ultrapassou os R$ 300 nesta semana.
O preço do mamão também deu um salto tão grande (R$ 12,00 o quilo), que o supermercado Yamato preferiu não comprar a fruta nesta semana.
“Não vou pagar este preço por um produto que terei de vender por mais de R$ 12 o quilo e que estraga em cinco dias”, afirma o gerente-geral do Yamato.
No supermercado Okane, localizado no centro de São Paulo, fornecedores chegam a elevar até R$ 2,00 o preço de um produto de um mês para outro, especialmente na linha de chocolates, de acordo com Jessica Ângelo, gerente da loja.
No caso de bebidas, produtos de mercearia, açúcar, molhos, enlatados e macarrão, diz ela, os preços têm subido entre R$ 0,30 e R$ 040 por unidade com a reposição de estoques, diz ela.
De fato, nos últimos 12 meses terminados em março, os preços dos supermercados na cidade de São Paulo subiram mais do que a inflação média.
Com base em um levantamento realizado em cerca de 70 supermercados da capital paulista, o Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela APAS/Fipe, aumentou 13,69%, no período. O IPC/Fipe, o índice que mede a variação de preços em geral para o consumidor paulistano, subiu 10,74%, no período.
Há casos em que os preços explodiram. Os produtos in natura subiram 25%, em média. No caso de frutas, a alta foi de 30,97% e, de legumes, de 28,49%.
O preço do mamão praticamente dobrou em um ano. A alta foi de 94,63% nos últimos 12 meses terminados em março.
Outros aumentos de preços ainda na linha dos produtos in natura deixaram os supermercadistas e os consumidores assustados.
O preço da cenoura subiu 89,6%; o da cebola, 37,65% e o do tomate, 18%, no período.
Os reajustes de preços de produtos industrializados não ficaram para trás.
O aumento médio atingiu 11,61%, com destaque para o açúcar (50,99%), óleo de soja (21,95%), leite (19,69%) e feijão (24,99%).
O que explica a forte pressão que produz alta de preços em meio a uma das maiores crises da sua história e o consumidor viu a renda cair drasticamente em um ano?
Para Juarez Rizzieri, professor sênior da FEA/USP e pesquisador da Fipe, que coordena o IPS/APAS, os preços dos produtos vendidos em supermercados estão subindo por conta de uma combinação de fatores.
Primeiramente, ele cita razões climáticas. Boa parte da produção de mamão, por exemplo, diz Rizzieri, está concentrada na Bahia. A seca reduziu a oferta da fruta, provocando, como consequência, uma alta de preços.
Essa explicação vale também para outras frutas e legumes que tiveram alta de preços acima de dois dígitos por conta de quebra de safra ou retração de produção.
Com o agravamento da recessão, a indústria também reduziu a produção para evitar o acúmulo de estoques, na expectativa de uma queda de consumo, diz ele.
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“É preciso considerar ainda que os produtos vendidos em supermercado são basicamente de primeira necessidade. Se a produção diminui e a demanda não cai ou se mantém, os preços tendem a subir”, diz Rizzieri.
O que tem 'segurado' as vendas dos supermercados, diz ele, principalmente de alimentos, é o fato de o consumidor ter diminuído as idas aos restaurantes e estar comendo mais em casa.
Pode estar havendo também, na sua avaliação, um aumento de preços com base em expectativas. E o que está segurando uma escalada ainda mais intensa de reajustes neste momento é justamente a perda de poder aquisitivo do consumidor.
Nos últimos 24 meses, de acordo com o levantamento do IPS/Fipe, 20% das 230 categorias de produtos pesquisadas tiveram queda de preços. Esse percentual, de acordo com Rizzieri, é o menor da série histórica do índice.
Isto é, 80% das categorias tiveram aumentos de preços, no período.
MAIS REAJUSTES
“Ainda vamos ter alta de preços. A recessão não muda este quadro. O que pode mudar é um sinal de mudança política e de credibilidade na suposta política que virá”, diz.
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O menor índice de inflação (IPC) que a Fipe já registrou na cidade de São Paulo, de acordo com ele, foi em 2006, de 2,54%.
Para o que índice volte a se repetir, a seu ver, o país precisa ter uma política econômica bem conduzida e fazer o ajuste fiscal.
“O Banco Central precisa ter o compromisso de fazer com que a inflação volte para patamares mais civilizados”, diz ele.
Nos países emergentes, incluindo o Brasil, a inflação média é da ordem de 4% a 5% ao ano. Nos países ricos, de 1%.
“Se a política econômica estiver determinada a garantir a estabilidade e a colocar a inflação na meta (4,5% ao ano) e as contas do governo forem ajustadas, o país tem tudo para voltar a crescer com inflação cadente. Isso não muda de uma hora para outra, mas, com a confiança no governo, ela vai caindo”, diz Rizzieri.
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