A receita de uma veterana para se manter competitiva
Rony Sato, gerente de inovação e tecnologia da Basf, eleita três vezes uma das cem empresas mais inovadoras do mundo, conta o que uma companhia deve fazer para se manter criativa

A cidade alemã Mannheim foi palco de grandes invenções ao longo de século 19. Em 1817, Karl Friedrich Drais, cidadão do povoado, criou a primeira bicicleta do mundo. Fabricada em madeira e sem pedais, a predecessora das magrelas atingia 15 quilômetros por hora.
Décadas mais tarde, outra invenção sobre rodas surpreendeu ainda mais a população da região.
Em 1886, o engenheiro Karl Benz desenvolveu um triciclo com motor movido à gasolina. A invenção, que parecia uma charrete envenenada, representou a invenção do carro.
Entre as invenções da bicicleta e do automóvel, Mannheim acolheu uma indústria de corantes em 1865. O negócio foi o embrião da Basf, hoje a maior indústria química do mundo, que fatura 70 bilhões de euros e emprega cerca de 112 mil pessoas.
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Atualmente, a operação brasileira da companhia é dividida em doze áreas de negócios e mantém um portfólio de oito mil famílias de produtos.
A companhia atende sete indústrias, como química, automotiva e agricultura. Uma das marcas mais conhecidas é a Suvinil, de tintas imobiliárias.
Nos últimos cinco anos, a Basf figurou três vezes na lista das cem empresas mais inovadoras do mundo, realizada pela Thomsom Reuters. O slogan da empresa reflete a incessante busca por novidades – “nós transformamos a química”.
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E quais são os desafios para fomentar a inovação e aglutinar diferentes ideias dentro da estratégia de crescimento de uma companhia com estrutura complexa?
No Brasil, o homem que tem essa resposta é Rony Sato, gerente de Tecnologia e Inovação da Basf para América do Sul.
Sato acompanha todos os diferentes programas relacionados a inovação que são desenvolvidos pela empresa e tem como função conectar as diferentes áreas de negócio numa sinergia estratégica comum.
A Basf utiliza práticas de inovação aberta, que consiste em criar relações de cooperação com universidades, institutos de pesquisa, fornecedores e clientes para encontrar novas oportunidades de negócios e solucionar desafios que podem ter impacto na empresa e em seu mercado.
Na prática, o conceito se traduz em plataformas de interação com pesquisadores acadêmicos, programa de sugestões internas, aceleração de startups, cocriação com outras empresas e séries de workshops e debates que buscam melhorar a sustentabilidade do planeta.
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NECESSIDADE DO MERCADO VERSUS CAPACIDADE TECNOLÓGICA
De acordo com Sato, para transformar todo o conhecimento que emerge das mais diferentes frentes em inovações relevantes, é necessário, previamente, elencar potenciais áreas de crescimento.
Para isso, a Basf identifica novas demandas de mercado e segmentos que estão em busca de soluções dentro das áreas de atuação da companhia.
Depois, a Basf posiciona sua força de tecnologia para atender as carências com inovações.
Um exemplo simples da metodologia da Basf tem relação com o uso de ar-condicionado na última década.
Com o pujante crescimento econômico brasileiro, entre 2004 e 2008, a venda de aparelhos de ar-condicionado – entre outros eletrodomésticos – aumentou consideravelmente.
Nos últimos anos, com a escassez hídrica e a crise energética, a conta de energia elétrica ficou mais cara. Ar-condicionado deixou de ser uma alternativa de conforto térmico para os mais pobres.
Neste intervalo, a Basf desenvolvendo uma série de materiais isotérmicos que, quando aplicados nas paredes e telhados da residência, diminuiem a variação térmica do ambiente.
A tecnologia reduz a necessidade de uso de ar-condicionado em até 50%, de acordo com um estudo encomendado pela Basf.
Outra inovação recente nasceu de uma parceria de cocriação entre a Basf e a empresa de biotecnologia norte-americana Solazyme, que mantém operação no Brasil.
O produto desenvolvido, o DEHYTON® AO 45, é uma betaína (composto químico) produzida com óleos de microalgas num processo de baixa emissão de carbono e que requer menos uso de água do que os processos até então existentes.
A matéria-prima pode ser utilizada em fórmulas de xampu, sabonetes líquidos e outros produtos de higiene pessoal.
Em 2015, o produto foi o vencedor do 1º Prêmio ITEHPEC de Inovação, realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos.
EQUILÍBRIO ENTRE INVESTIMENTOS E RESULTADOS
O principal indicador de desempenho em inovação utilizado pela BASF é o Índice de Vitalidade de Novos Produtos (Vitality Index), que mensura as receitas provenientes de produtos que estrearam no mercado nos últimos cinco anos.
No plano global, o índice é de 13%. No Brasil, a marca Suvinil tem índice de 60%.
Nos últimos anos, os investimentos em inovação têm crescido 6% ao ano. Atualmente, o dispêndio global é de cerca de 2 bilhões de euros.
A empresa não revela o investimento específico no mercado brasileiro devido ao fato de a região ser beneficiada por inovações criadas em outros países.
Por conta da recessão econômica, a empresa tem revisitado os projetos de inovação. A regra têm sido alocar recursos em projetos que possuem maior probabilidade de serem implementados no futuro – e, consequentemente, gerar retorno financeiro.
Um dos projetos priorizados é a marca Kixor, linha de moléculas para controle de plantas daninhas com grande potencial de crescimento na agricultura brasileira.
“Estamos em busca do equilíbrio entre o esforço de investimentos e os resultados que poderemos alcançar com as inovações”, afirma Sato. “A busca por eficiência é constante.”
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