84% dos consumidores pretendem economizar mais em 2015
Pesquisas mostram que as famílias devem evitar compras para colocar as contas em dia. O principal motivo para ter medo da inadimplência é o desemprego

A situação econômica do Brasil, que passa por um período de ajuste e dificuldades, tem refletido no comportamento do consumidor que continua se mostrando cauteloso no momento de comprar e se endividar, de acordo com pesquisa sobre a percepção da oferta de crédito, consumo e do sentimento em relação ao futuro, promovida pela Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) em parceira com a TNS Brasil, líder global em pesquisa de mercado.
O levantamento mostra que 84% dos consumidores afirmaram que pretendem mudar o padrão de consumo economizando mais em 2015. O número é quase o mesmo do registrado no primeiro trimestre do ano, quando 85% dos entrevistados já tinham informado que alterariam o padrão de consumo.
No último trimestre de 2014, esse percentual era de 75%. "O consumidor está mais preocupado em dar conta dos compromissos que já tem", afirma Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi.
De acordo com o levantamento, que avaliou a percepção dos consumidores no segundo trimestre de 2015 frente aos três primeiros meses do ano, 92% dos entrevistados disseram que a inflação é a principal responsável pelo freio na decisão de novos financiamentos.
Entre o primeiro e o segundo trimestre subiu de 76% para 84% o total de consumidores que disseram não ter a intenção de fazer um financiamento em 2015.
Além de se mostrar mais propenso a economizar, o consumidor está mais pessimista. Segundo a pesquisa, subiu de 66% em abril para 71% em julho o total de consumidores que acredita que a situação financeira do país é ruim ou péssima.
"O desemprego continua impactando no otimismo dos consumidores", diz Tingas. Para 86% dos entrevistados, o desemprego vai aumentar nos próximos meses, ante 81% apontado no levantamento do primeiro trimestre deste ano.
No rol de preocupações dos consumidores, o desemprego superou a inflação alta, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A perda de emprego impacta diretamente a renda das famílias e pode elevar a inadimplência.
Segundo dados da entidade, a proporção de famílias com dívidas ou contas em atraso alcançou 21,5% em julho, ante 21,3% em junho, ao passo que o percentual de famílias endividadas alcançou 61,9%, queda em relação aos 62% observados em junho e em relação aos 63% de julho de 2014.
Na análise de Bruno Fernandes, economista da CNC, a redução no endividamento total é um efeito positivo da queda na disposição dos consumidores em gastar.
A pesquisa considera dívidas com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguros.
A avaliação é que os consumidores estão quitando dívidas antigas em vez de fazer compras. O lado negativo desse cenário, segundo o economista, é que a inflação elevada e o aumento do desemprego afetam a renda e levam as famílias a atrasar o pagamento das dívidas. "Daí a ameaça de alta na inadimplência", diz.
AMBIENTE MACROECONÔMICO
Segundo Tingas, da Acrefi, é preciso criar um ambiente macroeconômico mais favorável para que os investimentos sejam retomados e reflitam na recuperação da confiança do consumidor.
"Talvez, neste período de ajuste, o consumidor não tenha um comportamento tão expansivo. A economia no Brasil e na América Latina tem um viés mais consumista, mais otimista, mas é preciso que as condições da economia mudem para que haja mais consumo", avalia.
O levantamento da Acrefi, que ouviu mais de 1 mil pessoas de todas as regiões do país, mostrou ainda que subiu a parcela de consumidores com algum tipo de dívida, 68% frente aos 62% registrados em abril.
O cartão de crédito é a modalidade que mais contribuiu para o endividamento do consumidor.
Enquanto 75% das pessoas declararam ter dívida de cartão de crédito, 29% disseram ter em carnê ou boleto, 21% em financiamento de carro, 18% em financiamento imobiliário, 15% no CDC (Crédito Direto ao Consumidor), 3% em leasing e 3% declararam ter outros tipos de dívidas.
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