Bandeira branca na guerra das operadoras
Na contramão das concorrentes, a nova plataforma da Nextel não irá consumir dados nas chamadas de voz no WhatsApp. Para se reinventar, a empresa aposta em consumidores cada vez mais conectados
Uma guerra é travada entre operadoras de telefonia móvel e os Apps que oferecem serviços de voIP (voz sobre IP), principalmente o mais popular deles, o WhatsApp.
Amos Genish, presidente da Vivo, chegou a declarar que o aplicativo, que pertence ao Facebook, é “pirataria pura”.
A alegação é de que WhatApp oferece um serviço similar ao das operadoras, mas não está sujeito às mesmas regras.
No ano passado, as quatro maiores empresas do setor (TIM, Vivo, Oi e Claro) anunciaram uma petição conjunta com embasamentos jurídicos contra o funcionamento do aplicativo no país para ser entregue à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
No desenrolar dessa novela – que tem um enredo similar ao do Uber no Brasil –, as tentativas de frear o avanço dessas chamadas de voz ainda não tiveram nenhum efeito.
Ao contrário, cada vez mais usuários deixam fazer ligações, que sempre foram a principal fonte renda das operadoras, e estão aderindo aos aplicativos.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Mobile Ecosystem Forum (MEF), o Brasil é o segundo país que mais usa o WhatsApp, ficando atrás apenas da África do Sul. O estudo aponta que 76% dos brasileiros usuários de telefonia móvel fazem uso regular desse App.
Diante de tudo isso e na contramão das maiores empresas de telefonia móvel do país, a Nextel, decidiu hastear a bandeira branca e se rendeu a vontade da maioria dos consumidores.
O novo produto da operadora, chamado Happy, permitirá que os usuários utilizem as chamadas de voz do WhatsApp e aplicativos similares, sem que isso seja descontado do plano de dados.
Ou seja, além de não pagar pela chamada, os usuários não terão que gastar parte da sua internet.
“Algumas operadoras já oferecem algo similar na troca mensagens, fotos e vídeos”, afirmou Francisco Valim, presidente da Nextel, durante o evento de lançamento do Happy na terça-feira (06/12).
“Mas, pela primeira vez, uma empresa de telefonia está oferecendo as chamadas de voz do WhatsApp sem desconto no plano de dados”
Além disso, o Nextel Happy também permitirá que os usuários decidam como querem montar seu plano. Eles podem, inclusive, optar por não comprar o pacote de voz e apenas utilizar a internet.
Não existe contrato com operadora e todos os processos como controle da conta, pagamento e atendimento ao cliente são realizados digitalmente por meio de um aplicativo.
Por enquanto, o serviço está disponível apenas para os DDDs 13 (litoral paulista) e 19 (Campinas e região). Mas até final de janeiro de 2017, a plataforma estará disponível em São Paulo e no Rio de Janeiro.
DE OLHO NO FUTURO
O que para as outras empresas pode parecer um suicídio, uma vez que as chamadas de voz são tradicionalmente a galinha dos ovos de ouro das operadoras. É, na verdade, uma forma de adaptação.
De tempos em tempos, inovações disruptivas mudam um mercado tradicional e abalam o modelo de negócio das grandes empresas.
Algo que aconteceu com gigantes de diversos setores, como a Kodak, que sofreu com a massificação das câmeras digitais, e a rede de locadoras Blockbuster, que fechou as portas devido ao sucesso dos serviços de streaming.
O mesmo fenômeno acontece, agora, com as operadoras de telefonia móvel e o WhatsApp. A Nextel está mudando seu modelo de negócio para se adaptar a essa inovação, antes que seja engolida por ela.
CONSUMO NO FUTURO
A nova estratégia da Nextel está relacionada também a uma visão que é defendida Magnus Lindkvist, futurólogo e economista sueco que palestrou durante o lançamento do novo produto da empresa.
Ele acredita que o consumo no futuro estará cada vez mais relacionado à conveniência.
Os consumidores estão cada vez mais conectados, digitais, velozes e, por isso, buscam cada vez mais produtos e serviços que poupam tempo ou que tornam as horas cada vez mais prazerosas e enriquecedoras.
Nessa perspectiva, o varejo tradicional ao redor do mundo está sofrendo com queda nas vendas porque é cada vez mais fácil e rápido comprar online.
Lindkvist acredita que no futuro as lojas físicas serão uma mistura do digital e do analógico. Ele citou como exemplo a loja da Amazon, que começará a funcionar em 2017.
Na Amazon Go Store não há caixas registradoras ou filas, os consumidores são identificados assim que entram por meio do smartphone, pegam os produtos que desejam e saem da loja. Toda a transação é realizada diretamente na conta dos consumidores de forma automática.
Lindkvist acredita que quanto mais uma empresa estiver focada nesse consumidor conectado e rápido e quanto mais conveniência oferecer para eles, mais chances de sucesso esse negócio terá no futuro. São nessas tendências que a Nextel está apostando para se reiventar.
Veja como Amazon Go Store funciona no vídeo abaixo:
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