Quem tem medo de Donald Trump?
Os efeitos econômicos do presidente eleito sobre a economia brasileira, mesmo supondo que cumpra todas as promessas de campanha, estariam bastante delimitados
“Os nossos maiores inimigos existem dentro de nós mesmos: são os nossos erros, vícios e paixões”
(Marquês de Maricá)
A surpreendente vitória na eleição presidencial norte-americana de Donald Trump, deixou os mercados internacionais em pânico, frente à possibilidade do representante do partido Republicano levar a cabo seu nada convencional plano de governo.
Em sua campanha, Trump defendeu abertamente políticas protecionistas, prometendo inclusive rasgar acordos comerciais, sobretaxar empresas norte-americanas instaladas no México e aumentar as alíquotas de importações provenientes da China.
Para estimular a economia, prometeu aumentar o investimento em infraestrutura em US$ 1 trilhão, o que implicaria na expansão dos gastos públicos. Outra medida de estímulo seria a redução dos impostos em todos os setores.
A combinação dessas duas políticas significaria ampliação do déficit público e aceleração da inflação, ao elevar as despesas totais. Frente a esse cenário, o Banco Central desse país deveria acelerar e intensificar o aumento das taxas de juros.
Assumindo que Donald Trump realmente implemente essas políticas, cabe perguntar que efeitos estas teriam sobre a economia brasileira.
Do ponto de vista do comércio exterior, o “fechamento” da economia norte-americana não representaria perda significativa para nosso país, pois nosso fluxo de exportações para os Estados Unidos é relativamente pequeno.
Além disso, compramos mais lá do que vendemos, ou seja, temos um déficit comercial, enquanto eles, obviamente, obtêm um saldo positivo (superávit).
Por sua vez, as empresas multinacionais norte-americanas instaladas no Brasil investem para produzir em nosso mercado, realizando remessas periódicas de lucros e dividendos para acionistas residentes no País do Norte. Isto em nada afeta a geração de empregos lá, muito pelo contrário.
O efeito mais importante da eleição de Trump para nós, assumindo o cenário anterior, seria reduzir a entrada dos capitais financeiros de curto prazo que entram em nossas terras para fins de aplicação financeira.
A operação, chamada de carry trade, é simples: o investidor estrangeiro levanta recursos no exterior, a juros muito baixos, e aplica no mercado financeiro brasileiro recebendo juros muito mais altos.
Na medida em que a remuneração do capital financeiro lá fora aumente com a elevação dos juros norte-americanos, diminui a rentabilidade da operação anterior, o que implicará na menor entrada de dólares em nossa economia.
Como a taxa de câmbio é o preço do dólar, esta tenderia a se elevar, encarecendo a compra de matérias primas importadas por parte dos produtores brasileiros, que tenderiam a repassar esse maior custo aos preços finais.
Ou seja, a principal consequência seria a diminuição do ritmo de redução da inflação, o que, por sua vez, levaria nosso Banco Central a demorar mais em reduzir a taxa básica de juros, atrasando a recuperação da economia brasileira.
Contudo, a evolução futura da inflação, e, portanto, dos juros também dependem, como a própria autoridade monetária já deixou claro em mais de um comunicado, do ajuste fiscal.
Sem que haja progresso nesse campo, o que fatalmente implicará na realização de uma reforma do sistema previdenciário, fica difícil pensar em juros menores e retomada do crescimento econômico, que também necessita de efetiva melhora da confiança de empresários e consumidores.
Em síntese, os efeitos econômicos da eleição de Donald Trump sobre a economia brasileira, mesmo supondo que este cumpra todas as promessas de campanha, estariam bastante delimitados.
A taxa de câmbio mais alta poderia atrasar a redução dos juros, porém, também poderia estimular a produção industrial e as exportações, ao baratear seus preços em dólares. Nosso maior inimigo somos nós mesmos.