Lula deveria ser preso, dizem 54% dos brasileiros
Pesquisa do Datafolha também revela que, se o ex-presidente não for candidato, Fernando Haddad teria hoje no máximo 3% dos votos. Para 89% dos entrevistados, deputados deveriam autorizar processo contra Temer
Uma notícia muito ruim para Lula e para o PT: embora o ex-presidente se mantenha na dianteira da disputa presidencial para 2018 (36%, no cenário mais otimista), a maioria dos brasileiros (54%) gostaria de vê-lo preso.
São dados de uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada nesta segunda-feira (02/10) e domingo, que também traz uma outra novidade desalentadora para o PT.
Caso Lula seja impedido de disputar o Planalto, seu “plano B”, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, teria hoje somente de 2% a 3% dos votos, dependendo de seus adversários.
Mesmo que pareça um paradoxo à baixa intenção de voto para Haddad, hoje 26% dos eleitores de Lula disseram que pensariam em votar em alguém que ele recomendasse.
Mas em 2014, quando Dilma Rousseff estava em campanha para o primeiro turno da reeleição, essa taxa era 11 pontos maior.
Um outro dado negativo para o ex-presidente está em sua taxa de rejeição. Ou seja, a proporção de eleitores que em hipótese alguma votariam nele.
Pelo Datafolha, são 42% -e a pesquisa é a primeira desde sua condenação a nove anos e seis meses, no processo do tríplex do Guarujá. Mas é uma rejeição em quatro pontos menor que pesquisa semelhante de julho.
Dois outros institutos indicam uma rejeição maior: de 54%, segundo o Instituto Paraná, e de 56%, pelo DataPoder360.
Em termos matemáticos, é impossível alguém se eleger com uma taxa de rejeição igual ou superior à metade do eleitorado.
Esse fato minimiza as simulações que o Datafolha faz para o segundo turno, do ano que vem, pelas quais Lula derrotaria todos os seus prováveis adversários – Geraldo Alckmin, João Doria, Marina Silva, Jair Bolsonaro – e superaria em pouca coisa, dois pontos, numa situação de empate técnico, apenas o juiz Sergio Moro – que já alertou não querer entrar para a política.
LULA E A FÉ RELIGIOSA
De qualquer modo, há uma forte persistência da preferência por Lula por parte de uma maioria relativa de eleitores. E isso, provavelmente, por motivos pouco racionais.
O que prevalece é a fé no dirigente petista.
Ele é visto como alguém que pode recolocar o país nos trilhos e retomar os índices de crescimento de seu primeiro mandato, quando as exportações para a China injetaram na economia tanto dinheiro que o desemprego baixou, e o poder aquisitivo dos mais pobres cresceu.
Para esses eleitores, abastecidos pelo componente religioso, Lula repetiria o mesmo cenário pela segunda vez, e todos seriam bem mais prósperos e felizes.
São basicamente esses os brasileiros que, em 40% das respostas ao Datafolha, disseram acreditar que Lula não deve ser preso – contra 54% com opinião oposta.
Aliás, a convicção de que o ex-presidente deveria ser preso não é homogênea na sociedade. Chega a 69% para quem tem instrução superior, mas cai para 37% entre os que têm nível fundamental.
Há também oscilação em termos regionais. No Sudeste (65%) e no Sul (61%), os que querem a prisão de Lula são bem mais numerosos que no Nordeste (34%).
Em tempo: a maioria dos entrevistados (66%) acredita que o ex-presidente não será preso, e apenas 28% pensa o contrário. Em outras palavras, é um desejo em torno do qual não há a crença de ser realizado.
Quanto à pesquisa puramente eleitoral, o dado novo é que tanto Geraldo Alckmin quanto João Doria, candidatando-se pelo PSDB, teriam entre 8% e 10% dos votos – com um número ligeiramente maior de intenções quando Lula não estivesse entre as opções da urna eletrônica.
Jair Bolsonaro, firme na segunda colocação em qualquer cenário – contra Lula ou contra Marina Silva – teria entre 16% e 19%, por mais que muitos acreditem que o deputado fluminense tem pouco fôlego, sem uma forte estrutura partidária e uma miríade de deputados, senadores e governadores reunidos em torno de seu nome.
TEMER, NO FUNDO DO POÇO
A pesquisa Datafolha desta segunda-feira também pergunta se a Câmara dos Deputados deveria autorizar a abertura de processo para julgar o presidente Michel Temer.
A resposta foi espantosamente esmagadora: 89% disseram que sim.
Segundo o Datafolha, Temer tem apenas 5% de aprovação -ante 3% na última pesquisa do Ibope.
A única conclusão disso é que prevalece a generalizada percepção de que o atual presidente da República está envolvido em corrupção, suspeita que cresceu, em maio, depois do áudio de Joesley Batista.
A má reputação de Temer transborda de maneira também irracional – inexistem indicadores que a confirmem – na convicção de que a inflação vai aumentar (56%), de que o desemprego também deverá crescer (53%), ou de que a situação econômica do país permanecerá em seu atual patamar (35%, contra 34% dos que acreditam que ela deverá piorar).
A moral dessa história é que, na cabeça dos brasileiros, nada de positivo acontecerá no Brasil sob a tutela de Michel Temer, contrariando os índices que demonstram a queda da inflação, a alta do emprego e a retomada do crescimento econômico.
Em outras palavras, para os brasileiros, que tendem a ser generosos com Lula, Michel Temer já é um caso perdido.
FOTO: Wilton Júnior/Estadão Conteúdo