Você sabe o que é parklet? São Paulo já tem 8 e ganhará outros 20
Como as minipraças estão atraindo os paulistanos e ampliando o espaço de convivência pública na cidade
Inicialmente temporários, agora eles chegaram para ficar. Os parklets, como são conhecidas as extensões temporárias das calçadas, surgiram em São Francisco, nos Estados Unidos, e estão se espalhando pela cidade de São Paulo.
Com um funcionamento semelhante ao de uma minipraça, os parklets são uma continuação do passeio público e ocupam a vaga de no máximo dois carros para serem instalados. Com a ausência dos automóveis, o espaço fica destinado ao uso público, equipado com bancos, floreiras, mesas e cadeiras, guarda-sóis, aparelhos de exercícios físicos, paraciclos, playground ou outros elementos de mobiliário, com função de recreação, convivência ou de manifestações artísticas.
Foi Lincoln Paiva, 46 anos, presidente do Instituto de Mobilidade Verde, o responsável por apresentar a ideia à Prefeitura de São Paulo. Junto a outros membros do Instituto, ele procurou três secretarias e dez departamentos para tornar o projeto em política pública. “Conheci o modelo em São Francisco e achei uma maneira fantástica de apropriação do uso do solo”, diz.
Na verdade, algo muito parecido já era proposto por ele desde 2007, as vagas vivas, que basicamente funcionam como os parklets, porém em espaço menor e de maneira informal. No entanto, Paiva observava que a população não entendia a intervenção por acreditar que se tratava de algo unicamente, artístico.
“O parklet é diferente porque ele é autoexplicativo. Isso torna a cidade mais humana”, diz. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto de Mobilidade Verde em 2013, duas vagas de estacionamento recebem 40 carros por dia, enquanto um parklet tem capacidade para receber até 300 pessoas em um período rotativo.
Em abril de 2014, a Prefeitura regulamentou o novo modelo de espaço de convivência, e determinou que, além da administração municipal, a iniciativa privada ou pessoas individualmente também poderiam aderir a ele, em áreas residenciais ou comerciais, tornando-se responsáveis pelos custos financeiros de instalação, manutenção e retirada dos espaços.
De acordo com a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, oito parklets foram instalados na cidade. Destes, sete são na região da Subprefeitura Pinheiros, nas ruas Padre João Manuel, Fidalga, Isabel de Castela, Francisco Leitão, Harmonia e Jerônimo da Veiga; e um na Vila Mariana, na rua Coronel Oscar Porto. Além disso, outras dez solicitações estão em análise nas subprefeituras Lapa, Pinheiros, Sé, Vila Maria e Vila Mariana, e outras onze aguardam instalação.
Até o final deste mês serão inaugurados dois pontos na alameda Lorena, um na rua Bela Cintra, na rua Padre João Manuel, região dos Jardins, e outro na rua Comendador Miguel Calfat, na Vila Nova Conceição. Segundo Paiva, os parklets têm baixo custo de manutenção e demandam um investimento de R$ 25 mil até R$ 80 mil para a instalação.
Para as instalações, a proposta deverá atender às normas técnicas de acessibilidade, diretrizes estabelecidas pela CET (Companhia de Engenharia e Tráfego) e pela CPPU (Comissão de Proteção à Paisagem Urbana). Entre as restrições estão, por exemplo, a instalação de parklets em locais onde haja faixa exclusiva de ônibus, ciclovias ou ciclofaixas, ou em vias com limite de velocidade acima de 50 km/h.
A solicitação deve seguir as regras do manual de instalação e ser feita à Subprefeitura competente, junto a um termo de compromisso de instalação, manutenção e remoção do parklet. Cada órgão irá avaliar a validade do pedido e publicar edital destinado a dar conhecimento público. A liberação garante o direito ao uso do espaço durante três anos. Após esse período, caso a permanência do equipamento não seja renovada, ele deverá ser removido.
Todo esse procedimento foi realizado pelos sócios da Le Botteghe di Leonardo, há cerca de um mês, na rua Oscar Feire, nos Jardins. Segundo Roberto Galisai, diretor de marketing da gelateria, a inspiração partiu de uma das intervenções realizadas no mesmo bairro. Em contato com o Instituto de Mobilidade Verde, eles conseguiram todas as coordenadas para tornar o desejo em realidade.
A loja foi inaugurada há cerca de dez dias, e já tem a aceitação de 98% dos clientes. Sem revelar o quanto foi gasto na instalação, Galisai tem ciência de que o espaço é destinado ao público em geral. Porém, ele admite que a minipraça tem o poder de aumentar o faturamento do negócio.
“Certamente os parklets atraem mais clientes porque muita gente acaba entrando para perguntar ou parabenizar, e saem tomando um gelato”, diz. “Além disso, é um espaço extra para a fila de espera ou para o momento de degustar nossos produtos.”
Outro parklet da cidade é o da rua Fidalga, na Vila Madalena, mantido pela incorporadora Idea! Zarvos, que possui um escritório no endereço. “A ideia já me foi apresentada e muito bem recomendada há alguns anos. E em reuniões na Prefeitura, me deparei novamente com o tema”, diz Otávio Zarvos, sócio proprietário da empresa.
Segundo Zarvos, o que garantiu o investimento de R$ 70 mil foi o tempo concedido pela Prefeitura. “Se fosse em um prazo curto não valeria a pena, e esperamos a renovação de mais três anos”, diz. A iniciativa veio a calhar em um bairro que reúne grande aglomeração de pessoas durante todo o dia, com lojas, bares e restaurantes, e escritórios.
O grande privilegiado com o novo parklet foi o bar do Genésio, que hoje é o responsável pela manutenção do espaço. Durante a noite, os clientes utilizam o local como área para fumantes, convivência e espera. A repercussão foi tão positiva que Zarvos já está em fase de negociações para a construção de um novo parklet na cidade.
Para Antonio Carlos Pela, coordenador da CPU (Conselho de Política Urbana) e vice-presidente da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), a Prefeitura deve estimular o bom uso do espaço público dentro de padrões. “A cidade fica charmosa, e mesmo que essas praças ocupem o espaço dos carros, o saldo ainda é positivo, pois estamos dando lugar a população, estimulando o comércio e proporcionando lazer. É necessário, no entanto, haver controle”, diz.