Rodízio de água é o próximo passo para São Paulo
A possibilidade de um severo racionamento se aproxima cada vez mais da região metropolitana e deve entrar em ação se o consumo não diminuir
“A ordem é economizar. A situação está muito difícil, e deve ficar ainda mais complexa”. Foi com essa frase que Benedito Braga, secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo deu início a sua apresentação sobre a crise hídrica e seu plano de contingência, na Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).
De acordo com Marcel Costa Sanches, gerente da Sabesp, o sistema de redução de pressão está próximo do limite da capacidade. Em operação desde o início do ano, essa ferramenta reduz o gasto de água por meio da diminuição de perdas. No entanto, essa redução afeta o fornecimento aos consumidores e o seu funcionamento tem os dias contados. "Hoje nós estamos perto desse limite", diz.
Caso o corte do programa de redução de pressão se confirme, o rodízio é a próxima opção apontada pelo secretário para combater a crise. A hipótese pode ser descartada se chover muito em fevereiro e março. Porém a previsão de chuvas para a região, neste período, não é otimista. "Numa situação em que a redução de pressão não for capaz, a próxima opção é o sistema de rodízio. Agora se vai ser implantada amanhã ou depois, eu não sei", diz Braga.
Segundo o secretário, no curto prazo, é necessário haver forte redução no consumo de água, intensificar as campanhas de informação e ampliar a utilização de água de reúso, principalmente, em indústrias e no agronegócio. Para este ano, estão previstos reforços para os sistemas Alto Tietê, Guarapiranga e Rio Claro com captações da represa Billings, e dos rios Itatinga, Guaio e Guaratuba.
No médio prazo, Braga destacou o reforço de 5,1 metros cúbicos por segundo captado pelo reservatório do Jaguari (Paraíba do Sul), reforço de 2,8 metros cúbicos por segundo para o Alto Tietê e outros 2,2 para o sistema Rio Grande.
A interligação de sistemas, obras emergenciais como os reforços para o Sistema Alto Tietê, o bônus para os clientes que reduzirem o consumo de água e a intensificação do combate às perdas também foram citadas.
O programa de redução de perdas exigiu um investimento de R$ 6 bilhões e reduziu as perdas de 40% para 30%. "Esse número está dentro do que o mundo trabalha, a França tem um percentual de 26%. Mas vamos reduzir ainda mais essa perda", diz Braga. Na região Metropolitana de São Paulo, 85% do consumo de água é residencial.
Para Marcelo Morgado, coordenador do NESA (Núcleo de Estudos Socioambientais), da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) e ex-assessor de meio ambiente da Sabesp, o racionamento é a medida mais indesejada para enfrentar a crise, pois causa transtorno a população e pode ser injusto. ”Cortar a água de hospitais é algo impossível de se pensar, portanto as residências próximas a estes estabelecimentos, como a região da Paulista, por exemplo, serão beneficiadas por essa situação”, diz.
Morgado também destacou que o método estressa a rede por conta do movimento “abre e fecha”. “Essa variação de tubulação, ora vazia, e ora pressurizada pode causar maiores vazamentos e infiltrações de ar. Além disso, a manobra de válvulas exige um esforço tão grande da Sabesp que acaba prejudicando outros serviços mais importantes”, diz.
Durante a discussão, João Alberto Manaus Correa, engenheiro civil e integrante do CPU (Conselho de Política Urbana), da ACSP, questionou como o órgão irá lidar com a burocracia ambiental e licitatória para realizar as obras apresentadas como urgentes. “Estamos em um processo que exige atitude. O que foi ou não feito não interessa agora. Queremos transparência e saber quais serão as providências exigidas pelo governo para lidar com a comoção pública”, diz. “Também é importante deixar claro para a população que as obras propostas não devem eliminar o rodízio”, diz.