Nesse ranking, limpeza é documento e vale ouro
Lançado o primeiro índice para avaliar a qualidade da gestão do lixo das cidades brasileiras - São Paulo decepcionou, Santos (foto) e Campinas se saíram bem
Para uma cidade, não basta ser limpa, é preciso sujar menos. Este é o conceito moderno de gestão do lixo que está por trás do novo Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (Islu).
A ideia tira do governo o papel de único responsável pela gestão de resíduos para dividir os cuidados com a sociedade, como prevê a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Desenvolvido pela consultoria PwC para o Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana (Selur), o Islu é um sistema de avaliação (ou termômetro) que vem suprir uma imensa lacuna de informação em um setor nevrálgico para a qualidade de vida dos brasileiros e da economia da país.
Participaram do estudo mais de 1,7 mil municípios, com dados de 2014. Segundo informações do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e do Tesouro Nacional, em média, 5% do orçamento municipal é gasto com limpeza urbana.
SUJEIRA À VISTA
O raio-X do Islu é implacável: apenas 10 cidades chegaram perto da nota máxima. Todas são pequenas e estão no Rio Grande do Sul, Santa Catarina ou Paraná.
A maior, Nova Esperança/PR, tem 27 mil e é a número 1 do ranking geral (0,900). Essas cidades são boas em varrição, reciclagem, destinação correta do lixo e uso de recursos financeiros. Resumindo, estão engajadas em resolver o problema.
A mensuração do índice, inspirado no método do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), da ONU, varia de zero a 1 um. Quanto mais próxima de 1, mais avançada é a cidade. São cinco estágios de desenvolvimento, de A a E.
Sobrou para as grandes capitais. A gestão ineficiente de recursos financeiros para o serviço jogou São Paulo (0,683) na categoria C, considerada ruim.
Brasília (0,643), mesmo vista como uma cidade de ruas limpas, teve o mesmo destino, por não se livrar de um enorme lixão, com graves riscos para a saúde.
No ranking das cidades com mais de 250 mil habitantes, entre as 17 que conseguiram a classificação B, cinco estão no Estado de São Paulo: Santos (0,737) em primeiro lugar, Campinas (0,729), Sorocaba (0,722), Santo André (0,717) e Limeira (0,702).
Entre os municípios avaliados em todo o país, apenas 16% estão na categoria A ou B, cerca de metade está na categoria C e 30% nas categorias D e E.
MEDIR PARA SOLUCIONAR
Com o estudo feito pela PwC e a metodologia criada, pela primeira vez, foi possível transformar em dados numéricos e comparáveis as impressões desagradáveis que saltam aos olhos e aos narizes de quem anda pelas ruas do país.
Melhor ainda: a partir dos dados, dá para saber em quais aspectos cada cidade está pecando e como pode concentrar recursos para resolver.
Se incomoda ver lixo na rua, catadores desprotegidos, moradores mal educados e saber de lixões ao léu, desvio ou falta de verbas para limpeza e desperdício de lixo valioso, o assunto diz ainda mais respeito às empresas, em especial ao comércio.
Geradoras de lixo, as empresas de varejo são também vítimas do estrago que um sistema ruim de limpeza causa à imagem de uma cidade, de um bairro e de uma rua.
DÁ PARA RESOLVER
Na lista, as cidades grandes e pequenas do Sul se destacam. A região tem um histórico de boa gestão, comprovando que investimento contínuo, educação ambiental e uso eficiente de recursos é um caminho de sucesso.
No estudo, o Estado do Paraná ganhou destaque especial. Presente com várias cidades nas categorias A e B, inclusive Curitiba (0,708), Londrina (0,704) e Maringá (0,730), o estado se dedica desde os anos 80 à educação ambiental e conscientização da população com relação ao tema resíduos sólidos.
Como se deduz do estudo, ainda há muito a fazer em relação à destinação dos resíduos sólidos no Brasil. Para o setor, a meta é criar um nível de consciência na sociedade para que os resíduos deixem de ser vistos como rejeitos e ganhem status de recursos a ser recuperados.
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