Economia colaborativa muda ação de empreendedores
O modelo de consumo alternativo alerta negócios tradicionais a adequar produtos e serviços para um novo perfil de consumidores
Reduzir, reutilizar e reciclar. Essas três palavras andam fazendo a cabeça de muita gente. Diferente da proposta de consumo do século 20, pautada pelo acúmulo de bens materiais, o século 21 traça um novo perfil de consumidor. As pessoas estão não apenas vendendo, como também alugando, emprestando, compartilhando, e doando.
Esse comportamento mostra que a relação dos consumidores com os seus objetos de desejo mudou. Se antes a prioridade era ostentar exclusividade, agora os adeptos da economia colaborativa aceitam pagar preços mais baixos para usar algo temporariamente, e depois compartilhar.
À primeira vista, a iniciativa pode aparentar ir contra o próprio interesse comercial da empresa. Mas o estímulo ao mercado de usados, por exemplo, pode fortalecer a marca e o compromisso da empresa em direção à responsabilidade ambiental.
LEIA MAIS: Precisa de dinheiro para criar ou expandir seu negócio?
Disseminado nos Estados Unidos, e principalmente, em países da Europa, o movimento vem ganhando espaço no Brasil e estimulando novos modelos de negócios. A Alemanha é um dos locais que saiu na frente nessa onda, com plataformas para compartilhamento de carros, bicicletas e outros bens.
A tendência levou empresas como a Ikea, fabricante sueca de móveis e outros itens de decoração, a criar uma plataforma on-line por meio da qual os clientes podem comprar e vender os artigos comprados nas lojas da marca – um espaço destinado somente para itens de segunda mão.
Para Renato Fonseca, consultor do Sebrae, o conceito de economia colaborativa ainda precisa ser melhor definido, uma vez que ainda se confunde com crowdfunding (financiamento coletivo) e sharing economy (compartilhamento). “Eles são modelos de negócios diferentes e precisam ser mais bem delimitados. A economia colaborativa ainda não é um conceito definido academicamente”, diz.
Fruto da tecnologia e da juventude, o novo estilo de consumo pode mexer com a estabilidade de alguns mercados e negócios tradicionais que poderão adequar seus produtos e serviços a um novo modelo de consumo que emerge na sociedade, segundo o consultor.
Para Fonseca, a economia colaborativa é a busca de soluções por um bem coletivo – um movimento que não pode ser ignorado e precisa de reflexão. “Modelos de negócios radicais vão impactar o jeito de fazer negócio porque é difícil combater uma tendência. Sem duvida, os empresários terão que oferecer diferenciais atrativos.”
LEIA MAIS: 6 alertas para o financiamento coletivo do seu negócio
USO COLETIVO
Em São Paulo, o empresário Allan Zylberstajn, 36 anos, apostou em um nicho já consolidado em solo americano. Há dois anos, ele decidiu importar lavadoras e secadoras da marca Speed Queen, produzida nos Estados Unidos. A novidade deu tão certo que a alta demanda pelo equipamento fez a marca inaugurar um escritório em São Paulo.
Com espaços cada vez mais reduzidos, muitos apartamentos são entregues hoje sem áreas de serviço. E foi nessa brecha que Zylberstajn viu a oportunidade para criar a Smartlav – uma solução de lavanderia compartilhada para os condomínios. O condômino paga conforme o uso e o serviço são contratados pelo administrador do prédio.
Em contato com as principais construtoras da capital, Zylberstajn apresenta o modelo a elas, e de que forma elas podem ser usadas nas lavanderias coletivas dos empreendimentos.
Segundo ele, uma lavadora residencial com capacidade para cinco quilos de roupas gasta entre 120 e 130 litros de água por ciclo enquanto a industrial para 10 quilos gasta 70 litros para o mesmo processo.
“Em um edifício com 100 apartamentos, se cada morador realizar apenas dois ciclos de lavagem por semana, o prédio economizará 480 mil litros de água por ano”, diz.
Atendendo a cerca de 60 condomínios na capital paulista, além de trabalhar com outras cidades de São Paulo e do País, a Smartlav trabalha com o sistema de venda, aluguel e pay per use.
Para venda, os conjuntos (lava e seca) partem de R$ 11 mil até R$17 mil – a recomendação é de um conjunto a cada 50 apartamentos. No aluguel, o equipamento pode custar entre R$ 700 e R$ 1100 (mensal).
LEIA MAIS: Escolha o investimento certo para a sua empresa
ESTRATÉGIA PARA CAPTAR NOVOS CLIENTES
Fazer negócios, sem muitas formalidades, com as pessoas em quem confiamos. Atento a este movimento, Rafael Bretas, 35 anos, fundador e diretor de criação da Agência FOG, criou um novo modelo de trabalho: o aconselhamento estratégico. Ele percebeu que muitos clientes se interessavam pela consultoria, mas não podiam pagar pelo serviço.
“No entanto, sabia que as orientações surtiam efeitos positivos e o cliente ficava satisfeito. Por isso, criamos um método de consultoria em que o empreendedor paga pelo valor que o direcionamento recebido trouxe ao negócio”, diz.
Bretas reserva um dia da semana, religiosamente, para atender a esses empresários. Após fazer um diagnóstico da empresa, ele traça um plano estratégico para alcançar o melhor resultado para o negócio.
O modo de remuneração pelo trabalho é a única diferença em relação às consultorias convencionais realizadas pela agência. O cliente vai pagar o que achar que deve, de acordo com o benefício que o aconselhamento trouxer para a empresa. “Acredito nos efeitos no longo prazo, na mola que pode gerar novos negócios. E futuramente, ele pode se tornar meu cliente fixo porque criamos uma relação de confiança”, diz.