O óbvio ululante
Caso Dilma seja afastada - hipótese por enquanto remota - o PMDB passaria a enfrentar a concorrência de um PMDB robustecido
Pesquisa Datafolha realizada domingo na avenida Paulista e divulgada segunda-feira apurou que 83% dos manifestantes disseram que votaram no senador Aécio Neves para a presidência da República.
O resultado contrariou o índice calculado pelo PT, que acreditava que pelo menos 90% dos participantes dos protestos contra o governo de Dilma Rousseff eram fiéis eleitores do PSDB.
Se mais de 80% confessaram que votam no PSDB, porque, então, Aécio Neves está reticente e ainda não criou coragem para sair às ruas e se integrar aos milhares de descontentes que pedem o “Fora Dilma”?
Provavelmente, Aécio não quer correr o risco de passar pelo mesmo vexame que afetou a imagem do deputado Paulinho da Força, que foi vaiado e impedido de discursar, depois que conseguiu subir num dos palanques instalados na Paulista, na manifestação de 15 de março.
A situação de Aécio, porém, é diferente, porque a maioria dos manifestantes votou nele no ano passado.
Os manifestantes tucanos ainda não se convenceram que perderam a eleição para o PT, e se preparam agora para marchar rumo a Brasília, com o propósito de pressionar deputados e senadores, através de protestos que podem ocorrer em frente ao Congresso Nacional, pedindo o apoio mais incisivo da oposição e de quem queira se aliar a ela ao pedido de impeachment da presidente Dilma.
Os mais otimistas fazem a comparação do Congresso atual com aquele de 1990, que aprovou o afastamento do ex-presidente Fernando Collor. A diferença, no entanto, é que Dilma não é o Collor, e nem o PT é o PR. Collor não tinha maioria de votos dos congressistas.
Outra constatação é que os manifestantes fiéis ao PSDB ainda não perceberam que, se o vice Michel Temer viesse a substituir Dilma Rousseff na Presidência, ele teria três anos fecundos para fortalecer de tal forma seu partido, que tornaria o PMDB em condições satisfatórias para lançar candidato próprio e robustecido ao Palácio do Planalto em 2018, reduzindo em pelo menos 50% a probabilidade do PSDB eleger o próximo presidente da República.
O quadro eleitoral de hoje privilegia os tucanos e indica que, para ganhar a próxima eleição presidencial, o PSDB precisa derrotar apenas um PT que anda enfraquecido pela crise política e econômica que aflige a população.
Mas, no caso de o PMDB lançar um forte candidato à Presidência, a tarefa do tucanato seria mais problemática: ao invés de derrotar apenas um adversário (o PT) para reconquistar o Planalto, o PSDB teria de vencer também um segundo inimigo (o PMDB).
Seria um ato de amadorismo criar dificuldade para o próprio partido, beneficiando o empenho de Michel Temer em criar mais musculatura em seu partido.
A pesquisa Datafolha mediu também o índice de popularidade de Lula, em meio às críticas ao PT em função da crise que o País vive.
O resultado da consulta foi publicado terça-feira pela Folha de S.Paulo, com a seguinte manchete: “Crise de Dilma corrói imagem de Lula”. Logo abaixo, o jornal diz: “Com popularidade menor, Lula empata tecnicamente com Aécio em nova eleição”, isto é, os dois disputariam a presidência da República voto a voto.
Para completar, o Instituto Datafolha perguntou: “Qual foi o melhor presidente que o Brasil já teve?” O resultado foi o seguinte: Lula, 50%; Fernando Henrique Cardoso, 15%; Getúlio, 6%; e, Dilma, 2%.