Faça tudo de propósito
É diferente falar de propósito na Dinamarca e em Serra Leoa, claro – as necessidades são profundamente díspares. Mas, se a humanidade aponta para um caminho no que diz respeito às organizações, deve-se olhar para ele
Se tivesse vida própria, a palavra propósito poderia queixar-se tranquilamente de ser aviltada, esmagada, entre outras tantas qualificações para seu excessivo uso em palestras, grupos de trabalho, livros e artigos como este. Portanto, uma generalização cabível seria tão simples quanto: “faça tudo de propósito”.
O que isso significa? Basicamente, não tratar o este termo como um anexo ou crença messiância prestes a salvar o futuro de uma empresa na primeira crise que aparecer.
A discussão intensa sobre o significado do trabalho e, por consequência, das organizações e atividades profissionais, ganha relevo no livro The Purpose Economy, de Aaron Hurst.
O autor busca delimitar a “Economia do Propósito” como uma sequência à “Economia da Informação”.
Depois de dominarmos a agricultura, as matrizes industriais e evoluirmos significativamente no processamento de grandes massas de dados, cabe-nos agora escalar mais alguns metros na montanha de Maslow rumo à glorificação do significado ou, se preferir, do propósito naquilo que fazemos.
Hurst segmenta a tal palavra em três níveis: individual, relacional e social, para traçar um mapa não apenas rumo à quantificação financeira da era que propõe, mas também ao abordar o propósito em todos os ângulos possíveis.
Obviamente que, mesmo com as sinergias facilitadas pela globalização, os diferentes panoramas culturais e econômicos dos países gera condições e barreiras particulares.
É diferente falar de propósito na Dinamarca e em Serra Leoa, claro – as necessidades são profundamente díspares. Todavia, se a humanidade aponta para um caminho quando se diz respeito às organizações, deve-se olhar para ele.
O propósito, no nível individual, aponta Hurst, não trata de um alumbramento que ocorre de hora para outra. Entretanto, consiste em um processo constante baseado no autoconhecimento.
Aforismos gregos à parte, tal dimensão interior e pessoal complementa-se quando encontra uma organização alinhada a este conjunto de crenças. Por isso, é fundamental que as marcas tenham clareza sobre o que preconizam além de fazerem o básico: prestar bons serviços e respeitar seus públicos.
O fato é que, cada vez mais, necessidades sociais (e aqui não estão apenas as “causas filantrópicas”) fundem-se aos objetivos principais de negócio nas corporações, sobretudo as emergentes. Não à toa, diz Hurst, emergem com progessiva força corporações “híbridas”, como as BCorps ou low-profit limites companies (L3C).
O novo jeito de empreender está intimamente ligado a resolver questões de foro público e/ou pessoal: mobilidade urbana, qualidade de vida, gestão financeira, hospedagem, saúde, entre tantos outros temas que podemos incluir em um panorama econômico baseado em compartilhamento, troca e acesso.
Somente o mercado peer-to-peer, por exemplo – no qual os intermediários e monopolistas são mera ficção -, está estimado globalmente em US$ 26 bilhões.
São mais de 500 cidades no mundo em 49 países com programas de compartilhamento de bicicletas, em uma frota total de mais de 500 mil equipamentos. Sem falar de empresas como Etsy e Zaarly, que já passaram, também, da casa do bilhão em movimentações.
De agora em diante, os empreendimentos estarão focados menos no que fazem e mais orientados aos problemas resolvidos.
O ciclo de vida de produtos e serviços tende a ser progressivamente curto, inversamente proporcional à criticidade dos cidadãos e volume de demandas em relação às organizações em vários níveis. Quem souber transformar isso em prática de forma veloz sairá à frente.