Do rolo ao nó
Em um país de enrolados graúdos, o rolo haveria de ganhar foros de legitimidade, quem sabe até com alguma pompa e circunstância
O episódio da absolvição da chapa Dilma-Temer pelo TSE no último dia 9/06 mostra que está sendo institucionalizado o melhor negócio no Brasil das últimas décadas: o escritório de rolo, onde se vende o que não tem, recebe-se o que não deve e paga-se com o que não é seu.
Faz sentido, infelizmente. Em um país de enrolados graúdos, o rolo haveria de ganhar foros de legitimidade, quem sabe até com alguma pompa e circunstância.
Com tanta gente poderosa cada vez mais enrolada, o outrora prosaico lugarzinho ganhou espaços antes impensáveis.
O rolo serve para não resolver nada. E o profissional do rolo é aquele perito em criar engano após engano, de porta em porta, até fazer prosperar o erro do qual se beneficiará.
Esse pode ser um meio de vida, condenável por certo, mas jamais o traço de uma coletividade, muito menos de uma nação.
Nenhum país fica impune errando tanto por tão longo tempo, como está insistindo o Brasil em fazer.
Perto de nós temos dois exemplos acachapantes: Venezuela e Argentina, vítimas de erros antigos com nomes novos: bolivarianismo e kirchnerismo.
O nosso erro também tem nome antigo, porém com instrumentos para lá de atuais: corrupção.
O Brasil está descobrindo, quem sabe a tempo, como esse erro funciona e para que serve: fazer política, da pior espécie.
Mas também está descobrindo, talvez tardiamente, o quão longe chegou essa teia.
É por aí que se entende o que ocorreu na sexta-feira passada. Mais do que eventual crime de abuso de poder político e econômico, por meio de financiamento ilegal de campanha, o que esteve em julgamento foi a corrupção política.
O julgamento foi histórico sim, mas de péssima memória. Referendou o que já ocorreu na nossa História, fazendo o País voltar àquela situação em que as eleições não se decidem nas urnas, mas a bico de pena, dos registros falsificados de antigamente até os registros de propina de hoje.
A sociedade espera que as lideranças políticas e as autoridades constituídas do País atuem de forma legítima e responsável, estritamente dentro da Lei, para por fim à crise que escala perigosamente.
Agora circulam notícias de que, em algum puxado da República, esboçam uma ofensiva contra a Lei.
O rolo pode virar nó, e cego.
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