Por dentro do Bergamini: quem disse que gestão familiar é algo do passado?
Localizado no Jaçanã, zona norte paulistana, o hipermercado ostenta a segunda maior receita por loja em ranking do setor e é administrado por irmãos e filhos
Com vendas de R$ 300 milhões anuais, o hipermercado exibido na foto acima ocupa a segunda posição em faturamento por loja no recém-lançado ranking da SBVC (Sociedade Brasileira para o Varejo e Consumo).
Sua área de vendas se estende por 8 mil m2, por onde transitam 15 mil clientes a cada dia até seus 95 checkouts. A loja dispõe de um estacionamento com 1,9 mil vagas e emprega 1,2 mil funcionários. É ali que, a cada mês, meio milhão de lares são abastecidos.
Localizado no coração no bairro do Jaçanã, na zona Norte de São Paulo, o hipermercado Bergamini, que exibe 30 mil itens em suas prateleiras, informa jamais ter registrado queda de vendas ou prejuízo, mesmo nos piores anos de crise.
Concorre com gigantes do setor em um raio de um quilômetro, como as redes Assaí e Sonda, além de supermercados menores, como o Comercial Esperança e o Mota, também localizados nas proximidades.
Tudo isso sugere uma empresa em processo de transição para uma administração profissionalizada, pronta para realizar um processo de sucessão, e que reserva um bom dinheiro para investir em sistemas de gestão e treinamento de pessoal.
Longe disso. Quem toca o hipermercado Bergamini, com base em uma administração familiar baseada na simplicidade, são os irmãos Odílio, 65 anos, e Ângelo, 70 anos, com os filhos Sandro e Egídio. Todos com o sobrenome homônimo do negócio.
“Sistema de gestão? Nosso diferencial é calor humano, conforto no atendimento, preço justo e foco em promoções de produtos básicos”, diz Cláudio Humberto Correa, sobrinho de Odílio e diretor da loja.
O contato direto com os donos com o público, segundo ele, faz toda a diferença na hora de o cliente decidir se vai para o Bergamini ou em outro estabelecimento na região do Jaçanã.
Odílio conversa com os clientes diariamente. “É muito comum ele me ligar do meio da loja para saber por que determinado produto não está na gôndola.”
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Com 95 caixas, é quase impossível pegar fila, assim como não encontrar vaga para estacionar o carro no estacionamento gigantesco, mesmo em datas como Natal, Dia das Mães.
A cada dia há, invariavelmente, um grupo de produtos em oferta na loja. Nos dias 23 e 24 de agosto, o detergente Limpol (500 ml) estava por R$ 0,99 na loja, quando o preço normal do produto é de cerca de R$ 1,50.
O pote de Nescau tradicional (400 gramas) estava por R$ 4,35, quando, em promoção em outros supermercados, diz Correa, o menor preço é R$ 4,98.
As ofertas também são imbatíveis, de acordo com Correa, na seção de hortifrútis.
Nos dias 23 e 24 de agosto, o quilo de batata, cenoura, chuchu, banana nanica, laranja pera, melancia e cebola saía por menos de R$ 1, assim como o maço de couve manteiga e o pé de alface crespa (R$ 0,98).
O carro chefe do Bergamini são as carnes produzidas em fazenda da família, localizada na paulista Riversul, a 400 quilômetros da capital.
A cada mês, são ali comercializadas cerca de 240 toneladas de carne bovina.
“O boi morre e no dia seguinte a carne está na loja. Não usamos hormônios e o gado toma água mineral. O consumidor gosta disso”, diz Correa.
A fazenda dos Bergamini também produz feijão e carvão. As duas lojas da família - a segunda é menor e fica a 2,5 quilômetros do hipermercado – comercializam 30 mil quilos do próprio feijão por mês, com as marcas Bergamini e Bodepan.
A gestão do hipermercado, como se vê, está toda em família. Odílio zela pela área financeira. Ângelo e os primos Sandro e Egídio e Correa, de compras.
No caso dos produtos mais pesados, outros funcionários adquirem as linhas de ítens de limpeza de empresas menores.
Sucessão é uma palavra tabu na empresa. “Nesta semana mesmo, o senhor Odílio disse para mim que vai estar junto da gente por pelo menos mais 20 anos”, diz Correa.
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A família Bergamini iniciou seus empreendimentos no ramo de supermercados no início da década de 1970, quando abriu uma pequena loja na região.
Odílio e Ângelo e mais quatro irmãos, filhos de um agricultor italiano que imigrou para o Brasil, decidiram deixar Martinópolis, no interior paulista, para tentar a sorte em São Paulo.
Deu certo. Dez anos mais tarde, com o dinheiro do então supermercado, a família começou a investir em fazendas para produzir a própria carne.
O hipermercado foi inaugurado em 2001, mas a primeira loja, atualmente com 42 checkouts, 600 funcionários, foi mantida, sob a supervisão de Ângelo Bergamini.
A família também é dona de centenas de imóveis na região, dos quais boa parte é alugada para os próprios funcionários. Aliás, há fila deles à espera de uma casa dos Bergamini.
Os planos da família para o hipermercado, que está localizado em uma área de 60 mil metros quadrados, é reformar a área destinada às lojas de terceiros e praça de alimentação e operar no comércio eletrônico.
“Eles querem ampliar os serviços prestados com o objetivo de fidelizar os clientes”. afirma o consultor Luis Henrique Stockler, contratado para isso.
Em contato com a família, Stockler diz que a forma com que os Bergamini gerem o negócio é baseada em proximidade com o consumidor, treinamento de funcionários, variedade de produtos, bom preço e atendimento.
“O conhecimento que eles têm de chão de loja é um fenômeno", afirma Stockler. Sabem escolher muito bem as mercadorias que devem entrar em promoção no dia certo e na hora certa. O básico deles é impecável e está na sua cultura deles.”
Para Michel Cutait, consultor de varejo, diante de tantas inovações tecnológicas e novidades, há uma forte tendência no ramo de volta ao básico (back to basics), ou seja, priorizar aquilo que é mais importante na relação comercial, como bom produto, preço justo, atendimento personalizado, compra facilitada e gestão simplificada.
A eficiência na maneira de tocar o negócio se estende para toda a família. O hipermercado Andorinha, que ocupa a primeira posição entre as empresas do setor com a maior receita por metro quadrado do Brasil, de acordo com a Abras, pertence à família Gouveia -parentes dos Bergamini.
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FOTO: Fátima Fernandes/ Diário do Comércio