Como a Instacarro quer revolucionar o mercado de veículos usados
Startup, fundada por Luca Cafici e Diego Fischer, desenvolveu uma plataforma digital que promete passar um automóvel para frente em menos de um dia. Em dois anos, o negócio já recebeu mais de 35 milhões de dólares em investimentos
Nos últimos anos, a revolução digital criou e destruiu modelos de negócios com tal velocidade que deixaria até o mais sagaz vidente de orelha em pé. No entanto, a maneira como vendemos automóveis usados atualmente é bem similar ao modo como faziam nossos pais.
Essa é a avaliação do argentino Luca Cafici (à esq. na foto), que, ao lado do brasileiro Diego Fischer, fundou a Instacarro, plataforma digital que promete vender um carro usado em menos de um dia.
À primeira vista, o modelo de negócio da Instacarro parece ser uma simples intermediação de compra e venda de veículos, baseada em tecnologia para simplificar o processo.
A inovação é, porém, mais complexa. E para entender o modelo de negócio, é necessário, antes, analisar a confusa precificação de carros usados no Brasil.
Considerando apenas vendas de pessoas físicas para concessionárias e lojas de revenda, o valor de carro varia de cidade para cidade – e, em São Paulo, de bairro por bairro.
Por exemplo, um Chevrolet Vectra 2.0, flex, ano 2010, pode custar R$ 26 mil numa loja do Itaim Bibi. O mesmo modelo, numa revenda da Barra Funda, pode sair por alguns milhares de reais a mais.
“Isso acontece por causa dos diferentes níveis de estoques e necessidades de determinados modelos nas lojas”, afirma Cafici. “Também é considerado o poder aquisitivo do público da cada região."
Esse formato não faz muito sentido, uma vez que, há décadas, a internet possibilita a integração de mercados em escala global. Então, já era hora de se reinventar a vendas de carros usados.
Para amenizar a flutuação de preços e dar agilidade ao processo, a Instacarro se pauta numa avaliação técnica dos veículos, para encontrar o preço justo para quem vende e para quem compra.
A avaliação demora cerca de 30 minutos e é realizada por técnicos que usam um aplicativo desenvolvido pela própria Instacarro.
Funciona a assim: para quem vende, é necessário entrar no site da Instacarro e agendar uma vistoria do veículo, que pode ser feita numa das dez unidades da empresa na capital paulista ou no domícilio do vendedor.
O app orienta quais partes do veículo precisam ser examinadas, como lataria, motor e itens de segurança. A ferramenta também armazena fotografias do automóvel.
Posteriormente, as informações são usadas para gerar um anúncio na plataforma da Instacarro, que reúne mais de 3 mil lojistas Brasil afora.
Num modelo de leilão online, os lojistas dão lances durante 30 minutos. Caso o vendedor aceite a melhor proposta, a Instacarro compra o veículo e o revende na mesma hora para o lojista. Não há relação entre o até então dono do veículo e o lojista.
VANTAGENS PARA QUEM COMPRA E PARA QUEM VENDE
De acordo com Cafici, o maior benefício é a agilidade – é possível vender um carro em um dia.
“Embora o valor seja menor do que o de vendas entre pessoas físicas, o vendedor consegue encontrar o melhor preço entre diversas lojas de revendas”, diz o empreendedor.
E quais são as vantagens para o lojista?
O principal benefício é a segurança. Como a Instacarro compra o veículo antes de fazer o repasse, a startup realiza todo o processo de regularização de transferência, como retirada de multas.
Ao aderir à plataforma, o lojista também passa a ser atendido por um funcionário da Instacarro, que analisa as necessidades da revendedora e monitora os leilões para achar os modelos mais atrativos.
A Instacarro não cobra taxa dos vendedores, nem comissão sobre as transações. O faturamento é proveniente de uma mensalidade imposta aos lojistas que compram veículos – a Instacarro não revela o valor.
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INSPIRAÇÃO VEIO DA RÚSSIA
Fundada em dezembro de 2015, a Instacarro já nasceu com investimentos de 3,5 milhões de dólares, procedentes dos fundos estrangeiros Lumia Capital, Tekton Ventures e FJLabs – além de investidores anjo.
Atualmente, a cada mês, a Instacarro avalia cerca de 2 mil automóveis. A empresa não revela o faturamento, mas espera um crescimento de 400% em 2017.
Os negócios estão sendo impulsionados também pelos efeitos da recessão. A crise fez com os brasileiros voltassem a comprar mais produtos usados. De acordo com Fenabrave, as vendas de seminovos no país cresceu 10,93% em junho, em comparação com o mesmo período do ano passado.
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Em março passado, a Instacarro recebeu mais 33 milhões de dólares em investimentos. Os recursos têm sido usados para aprimoramento da tecnologia, contratação de pessoal e abertura de novos postos de atendimento.
Há dois meses, a empresa abriu duas unidades no Rio de Janeiro. “Queremos aumentar a nossa capilaridade para nível nacional no próximo ano”, diz Cafici.
A empresa também pretende lançar um serviço de entrega de carros para os lojistas. Hoje, todos precisam retirar os veículos comprados no pátio na empresa, localizado em Osasco, na região metropolitana de São Paulo.
A inspiração para criar o negócio veio de empresas estrangeiras, como a russa CarPrice, a americana We Buy Any Car e a alemã Auto1.
Fundada em junho de 2014, a CarPrice tem tido um crescimento exponencial. A empresa já recebeu mais de US$ 48 milhões em três rodadas de investimento. Hoje, é a maior leiloeira de veículos usados do leste europeu.
Voltando ao Brasil, se depender da ambição dos jovens fundadores – e do tamanho do bolso dos investidores – a Instacarro pode galgar um caminho similar.
IMAGENS: Divulgação