Comércio e blocos de rua, uma relação de amor e ódio em SP
Enquanto alguns esperam o ano todo pela data, outros fecham as portas durante a folia de quase 500 blocos. Comércio especializado viu crescimento de 30% nas vendas
Ao que parece, o Carnaval de rua em São Paulo veio para ficar. A explosão dos blocos é sentida em especial pelas lojas de fantasias e acessórios da região da Rua 25 de Março, no Centro.
No endereço, os comerciantes estão registrando aumento de até 30% nas vendas para a festa paulistana. Máscaras, óculos, perucas, chapéus e buzinas estão entre os itens mais procurados.
Em 2016, o Carnaval de rua de São Paulo reuniu 1 milhão de foliões e movimentou R$ 400 milhões com a apresentação de aproximadamente 320 blocos. Neste ano, a Prefeitura recebeu 495 inscrições -62% mais que no ano passado.
As regiões mais requisitadas para os desfiles são as da Sé e Pinheiros. Com blocos no Vale do Anhangabau, Praça do Patriarca e Viaduto Santa Ifigênia, os comerciantes da região central estão abrindo as portas mais cedo aos sábados.
É o caso da Paris Biju, uma loja de acessórios na rua Varnhagen, que vende em média 100 tiaras de flores por dia, desde o início de fevereiro. O item se tornou o carro-chefe do estabelecimento, de acordo com a gerente Ana Flávia Correia, 36 anos.
Embora o custo seja mais baixo que outros acessórios, em torno de R$ 13, os adereços de cabeça vendem como água, afirma a vendedora. “O ticket médio cai, mas, em compensação, o entra e sai é maior”.
Aos sábados, esse volume aumenta por conta dos blocos que passam pela região. Para aproveitar a demanda, a loja passou a abrir uma hora mais cedo, às 8 horas.
“Os clientes compram os acessórios, se arrumam na rua e seguem para a folia”, diz.
Melhem Feghali, 61 anos, dono de uma loja de fantasias na região da 25 de Março, acredita que os blocos renovaram a clientela do Carnaval.
O comerciante espera um movimento 30% maior que o de 2016 com a venda de máscaras, perucas e itens carnavalescos. Este ano, as vendas começaram mais cedo, já na primeira quinzena de janeiro.
A previsão da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) é menos otimista, em razão da sequência de quedas que o varejo paulistano vem registrando.
Em janeiro, o movimento de vendas caiu em média 5% ante o mesmo mês do ano passado.
Alencar Burti, presidente da ACSP, lembra que, para a capital paulista, o Carnaval não é um evento comercial, já que as pessoas aproveitam a data para viajar, enfraquecendo as vendas do comércio.
“Não há muita expectativa de que tenhamos números melhores”, diz Burti.
É o caso do bar e restaurante Guanabara. Ao contrário do que muita gente pensa, a data prejudica o negócio.
No início de fevereiro, quando os primeiros blocos começaram a se apresentar, Márcio Luiz Pinto, 32 anos, gerente do bar, viu a entrada de uma das unidades do restaurante, na Bela Vista, completamente bloqueada em pleno sábado, dia em que eles chegam a faturar até 40% a mais em relação aos dias úteis.
“Os clientes já são cativos e vêm com mais tempo, consomem mais bebidas. Mas faz quatro sábados que me vejo obrigado a fechar as portas”.
Algo parecido acontece na outra unidade do Guanabara, no Vale do Anhangabau, que também é palco de alguns blocos. Ali, o maior inimigo de Luiz Pinto são os ambulantes. Além da maior proximidade dos foliões, oferecem preços mais baixos.
“Se deixamos a casa aberta, viramos uma espécie de banheiro público. Não sou contra Carnaval de rua, mas meu prejuízo é grande”.
Em Pinheiros, a situação é quase a mesma, mas com um agravante. A proposta de um Carnaval diurno para evitar aglomerações em ruas residenciais determina que os principais bares da região fechem mais cedo, às 20 horas.
Na prática, porém, as coisas não estão funcionando bem. Rogério Balderi, 43 anos, é sócio de um bar na rua dos Pinheiros.
Ele explica que, até o segundo fim de semana de fevereiro, conseguiu aumentar seu lucro em 10%, com o pré-Carnaval. Esperava mais.
Com o aumento de restrições por parte da Prefeitura, muitos blocos deram preferência a outros bairros, onde a folia pode ir até mais tarde.
"Sei que no baixo Augusta e Pinheiros, por exemplo, tem bar dobrando o faturamento com os trios".
No último sábado (19/02), a situação piorou para o empresário. De acordo com Balderi, os ambulantes chegaram em massa, e ele teve de recusar clientes para conseguir fechar no horário determinado.
PEQUENOS NEGÓCIOS
Em todo o país, o Carnaval deve movimentar a economia local, em especial nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Bahia.
Os dias de festas encerram a temporada de férias e representam uma oportunidade importante para aumentar o faturamento das micro e pequenas empresas que trabalham com hospedagem, transporte e alimentação.
De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Agentes de Viagem (Abav), os 1,1 milhão de turistas esperados na cidade do Rio de Janeiro devem gastar cerca de R$ 3 bilhões com esses itens.
“Mais de 90% das empresas de turismo do país são micro e pequenas empresas. Com planejamento e inovação, os pequenos negócios de turismo podem conquistar novos clientes e promover o aquecimento da economia local neste período”, afirma Guilherme Afif Domingos, presidente do Sebrae.
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*Com informações da Agência Sebrae