Atacadistas de moda de Rio Preto disputam clientes com São Paulo
Nos últimos dois anos, São José do Rio Preto expandiu seu polo de confecções, e começou a atrair lojistas e sacoleiras do Brasil inteiro
Bairros comerciais de São Paulo, como Brás e Bom Retiro, atraem diariamente 500 mil pessoas de todas as partes do Brasil.
São mais de 20 mil estabelecimentos espalhados em 59 ruas de comércio especializado, que movimentam cerca de R$ 35 bilhões por ano na capital paulista, de acordo com os dados da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo da cidade.
No entanto, aproveitar tamanha variedade esbarra em uma série de problemas de uma metrópole insegura, com transporte insuficiente e sem nenhuma comodidade para quem vem de longe.
A goiana Jamile Conceição, 32 anos, faz parte do grupo que viaja uma noite inteira para amanhecer no maior centro de compras do país, onde costuma gastar R$ 5 mil.
Habituada a fazer esse roteiro a cada três meses durante quatro anos, ela reduziu o número de visitas à capital no último ano. Agora, Jamile se limita a duas viagens por ano, somente para os lançamentos de verão e inverno.
As razões disso são variadas: distância, trânsito, violência, alimentação cara, condições de pagamento, falta de comodidade, dificuldade para se deslocar entre os polos comerciais, e preços altos.
"No Mega Polo (complexo atacadista), os preços são bem mais altos", diz. "Nas lojas de rua, a variedade é menor, algumas (lojas) não aceitam cartão, e tenho que andar com os valores em notas correndo o risco de ser assaltada".
Reclamações como a de Jamile motivaram centros atacadistas de cidades do interior como São José do Rio Preto, a 451 quilômetros da capital, e Cianorte, no Paraná, a investir em qualidade e infraestrutura para conquistar esse público com alto potencial de consumo.
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Com três shoppings especializados em atacado, São José do Rio Preto reúne cerca de 1,2 mil confecções, que colocaram a cidade na rota da moda, atraindo consumidores de outros estados, como Brasília, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, e Acre.
Júlio Cesar Boschetti, gestor administrativo do shopping atacadista Litoral, diz que quem visita o centro comercial é recebido com um café da manhã.
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Além de investir em infraestrutura, Boschetti e os administradores de outros atacadistas da cidade, se aproximaram das agências que promovem caravanas de compras, e fecharam parcerias, que envolvem desde descontos até hospedagem, translado e refeições subsidiadas pelo shopping.
A estratégia rendeu um crescimento de 20%, no movimento do shopping, nos últimos dois anos.
Inaugurado em 2012, o centro comercial recebe 10 mil clientes por mês, que ali desembolsam entre R$ 3 mil e R$ 15 mil, em visitas quinzenais ou mensais.
Para receber esse público, o Litoral, e os outros dois complexos, Clube da Moda e Fashion Center, possuem estacionamento, restaurantes, banheiros com chuveiros, e até uma área para descanso.
As confecções de Rio Preto seguem o mesmo caminho dos empreendimentos, tentando se diferenciar ao máximo de tudo o que é produzido em São Paulo.
De olho nesse mercado, a jornalista Ana Paula Hova, 35 anos, decidiu montar uma pequena confecção há quatro anos, para vender peças femininas para butiques.
Sem revelar números, Ana Paula afirma que a aposta saiu melhor que o esperado. Com uma loja no shopping Litoral, a empresária diz que Rio Preto se tornou um dos polos preferidos dos lojistas.
Ela destaca a qualidade dos tecidos utilizados, a modelagem, e a variedade das peças produzidas na cidade. "Tudo muito diferente do que se vê na capital. Temos um estilo diferenciado, muito procurado por um público mais exigente."
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Carro-chefe de sua marca, os vestidos da Ana Hova Store são vendidos a um valor médio de R$ 130, no atacado.
Com um crescimento de 20% no volume de vendas, em 2015, a empresária também admite que a divulgação em redes sociais é responsável por, pelo menos, metade desse resultado.
Em Rio Preto, comércio e serviços correspondem a 76% do PIB, e de acordo com Jorge Luís de Souza, vice presidente da Acirp (Associação Comercial e Industrial de São José do Rio Preto), a indústria da moda é responsável por cerca de 60% desse resultado.
Em momento de crise, Souza aponta que os shoppings atacadistas funcionam como o estoque das lojas de cidades da região. Além disso, esse mercado estimula a economia local por estar diretamente ligado a outros ramos, como o de embalagens, por exemplo.
"A expansão de alguns atacadistas, no últimos dois anos, fortaleceu Rio Preto, e favoreceu pequenas confecções, que se tornaram grandes marcas".
*FOTO: Cleber Davidson