Faltam sacolas verdes para os pequenos comerciantes
Distribuidoras de embalagens dizem que a indústria não está conseguindo atender à demanda
No dia seguinte à entrada em vigor da lei municipal que proíbe a distribuição de sacolas plásticas convencionais no município, pequenos varejistas informaram que estavam com dificuldade para encontrar as sucedâneas verdes no mercado.
“Não estamos conseguindo comprar as sacolas biodegradáveis. O fornecedor não tem produto para entregar”, disse Jairo Braz, proprietário do supermercado Cara Melada, que fica na Rua do Comércio, no centro de São Paulo.
O fornecedor no caso é a Iramag Comércio de Embalagens, que atende a cerca de 200 pequenos lojistas, principalmente nos bairros da Lapa, Pinheiros e Centro de São Paulo.
“Não há sacolas verdes disponíveis no mercado. Lojas de doces, açougues, mercearias e pequenos supermercados ainda estão usando as embalagens antigas. Não tem jeito”, afirmou nesta segunda-feira (6) Irajy Padula, proprietário da Iramag, distribuidora de embalagens há mais de dez anos.
A Iramag costuma adquirir as sacolinhas principalmente da Extrusa-Pack Indústria de Embalagens, uma das maiores fabricantes no país. “Eles estão dando preferência para abastecer os grandes clientes”, afirma Padula.
Gisele Barbin, gerente comercial da Extrusa, admite que clientes tradicionais têm preferência. Mas alega que os lojistas deixaram para a última hora a compra das sacolas e, por essa razão, a empresa não tem volumes para pronta entrega. “Os lojistas achavam que haveria prorrogação de prazo, o que não ocorreu”, diz ela.
Desde 2012, segundo Gisele, alguns dos principais clientes da Extrusa, como a rede de supermercados Záffari, e outras redes da região Sul do país, já migraram da sacola convencional para a biodegradável e, portanto, estão cumprindo a lei municipal.
A empresa tem capacidade para fabricar 1.500 toneladas de sacolas plásticas por mês (entre a verde e a convencional). Até então, a verde representava cerca de 10% da produção da companhia.
“Temos 20 clientes na capital que já estão cumprindo a lei porque se prepararam para isso. O que estamos dizendo para os lojistas que estão ligando hoje (06/04) é que, em uma semana, nós vamos conseguir atendê-los”, afirma Barbin.
Álvaro Furtado, presidente do Sincovaga, sindicato que representa cerca de 40 mil varejistas paulistas, fez uma rápida pesquisa hoje e constatou que os sócios do sindicato, especialmente os pequenos, não estavam conseguindo cumprir a legislação.
“Não significa que eles não querem cumprir a lei. Não existem sacolas verdes no mercado. Os associados estão tentando comprar. Nós recomendamos que eles peçam para os consumidores trazerem as sacolas de casa”, diz Furtado.
A troca de sacolinhas convencionais para biodegradáveis favoreceu, segundo supermercadistas consultados pelo Diário do Comércio, as grandes redes de supermercados. Isso porque, a partir de agora, elas poderão fazer o que sempre quiseram, que é cobrar do consumidor o uso das embalagens.
A sacola verde custa quase o dobro da convencional. A Extrusa–Pack, por exemplo, vende a sacola verde por R$ 0,092 a unidade e, a convencional, a R$ 0,04. Mas a empresa ressalta que a embalagem biodegradável tem capacidade para 10 quilos e, a convencial, para 5 quilos.
Uma das grandes reclamações dos supermercadistas é exatamente o tamanho da sacola, que é um pouco maior (0,48 cm de largura por 0,55 cm de cumprimento). “É muito grande. Quem compra uma barrinha de cereal e um iogurte para um lanche terá de levar os produtos em uma sacola grande. A Prefeitura precisa liberar outros tamanhos”, afirma Padula, da Iramag.
A Braskem é uma das maiores fabricantes de polímero de fontes renováveis, matéria-prima para a produção das sacolas biodegradáveis. Esses polímeros renováveis podem ter origem em cana de açúcar, milho, por exemplo.
Ontem, supermercadistas, distribuidores e fabricantes embalagens chegaram a cogitar a possibilidade de a Braskem não ter capacidade para atender a nova demanda e que este seria um dos motivos da falta das embalagens no mercado.
Procurada pelo Diário do Comércio, a Braskem informou, por meio de nota, que “não há falta de resinas plásticas de origem renovável e que está preparada para atender toda a demanda da cadeia de transformação”.
O comércio que descumprir a legislação, isto é, que continuar utilizando as sacolinhas convencionais, receberá multas, a partir de R$ 500, dependendo do caso. A fiscalização será feita pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. O lojista poderá ou não cobrar as sacolas do consumidor.
Foto: Estadão Conteúdo/Felipe Rau