A empresa paulista que enxergou mais longe
Como a GeoMob criou um aplicativo inovador para o Google Glass que vai ajudar a aumentar a produtividade de pequenas e médias empresas
Desde que foi anunciado, em 2012, o Google Glass divide opiniões: alguns consideram o novo dispositivo revolucionário – a possibilidade de ter diversas funções bem na frente de seus olhos – e outros acham que é mais uma bugiganga tecnológica sem muita utilidade.
O engenheiro Christian Gallasch, diretor da GeoMob, localizada em Itu (a 102 quilômetros da capital paulista), especializada em aplicativos e soluções tecnológicas, faz parte do primeiro grupo e enxergou no celebrizado óculos a possibilidade de criar novos produtos.
Em dezembro passado, a GeoMob foi convidada pelo Google para participar da venda antecipada do Google Glass, realizada para uma lista restrita de empresas dedicadas à programação e chamadas de desenvolvedoras.
Gallash e sua equipe tiveram o privilégio de testar o novo aparelho antes do público consumidor e, assim, criar aplicativos para seu sistema. “Esse dispositivo ainda é muito novo e não há garantias de que será amplamente usado, mas tivemos a chance de nos tornarmos pioneiros nessa tecnologia”, afirma o diretor da GeoMob.
COMO O GOOGLE GLASS FUNCIONA
Os óculos são equipados com um pequeno projetor, microfone, câmera, transmissor de áudio, CPU e uma bateria com duração entre quatro e oito horas, dependendo do tempo de uso. A tela é projetada no canto superior direito do campo de visão. Um prisma reflete essas imagens no interior da retina do usuário.
É neste espaço que aparecem todas as funções do dispositivo, como tirar fotos, gravar vídeos, consultar um caminho por meio do GPS, ver a previsão do tempo, visualizar e-mails e fazer ligações e videoconferências. A haste direita é sensível ao toque: com um pequeno contato é possível mudar as funções.
Outras maneiras de controlar o aparelho é por meio de movimentos com a cabeça ou por comando de voz. Para tirar uma foto, por exemplo, basta colocar os óculos e dizer “Ok Glass” (frase que ativa o dispositivo), depois “Take a picture” (tirar uma foto, em inglês) e piscar o olho para capturar uma imagem. O Google Glass não tem caixas de som ou entradas para fones de ouvido. Os ruídos emitidos pelo aparelho são projetados por meio de vibrações diretamente no crânio do usuário –o que assegura privacidade durante as ligações.
Assim como os smartphones, o Google Glass permite que os usuários personalizem o aparelho de acordo com suas necessidades por meio de aplicativos. É nesse ponto que começa o trabalho de desenvolvedores como a GeoMob.
O APLICATIVO BRASILEIRO
Depois de buscar os óculos nos Estados Unidos e pagar US$ 1.500 pelo aparelho, a GeoMob em parceria com a Mega, empresa de tecnologia também sediada em Itu, começaram a planejar um aplicativo para o aparelho. “Sabíamos que os o Google Glass tinha potencial de ir além do entretenimento", diz Gallasch. "Então começamos a conversar com os nossos clientes para entender quais eram os problemas que eles enfrentavam no dia a dia da empresa. A partir daí iniciamos o projeto baseado nas soluções que podíamos oferecer com a ajuda dos óculos.”
A Mega já fornecia para seus clientes um sistema ERP (Enterprise Resource Planning) – plataformas de software que reúnem em único sistema informações dos diversos setores de uma empresa como contabilidade, recursos humanos, marketing, compras e vendas. Essas planilhas e gráficos são atualizados em tempo real e os donos das empresas podem ter uma visão geral dos negócios. “Decidimos criar um aplicativo para que os empresários conseguissem acessar as informações da empresa de forma rápida e simplificada no Google Glass", afirma Gallasch. "É uma ferramente que pode se tornar essencial, por exemplo, durante uma negociação de contrato”, diz Gallash.
Outro recurso do aplicativo foi concebido para funcionários que trabalham em grandes estoques. Por meio de imagens ou de um QRCode é possível identificar um produto, mostrar em local ele deve ser armazenado no estoque, sem que seja necessário digitar qualquer informação. “A ideia é tornar a gestão de estoque mais eficiente”, afirma o executivo.
Esses produtos desenvolvidos para o Google Glass são similares aos aplicativos desenvolvidos para smartphones. As diferenças estão apenas nas particularidades de cada dispositivo. De acordo com diretor da GeoMob, a principal dificuldade por enquanto não está na tecnologia necessária para produzir esses apps, mas no número limitado de desenvolvedores e de pessoas que possuem o aparelho: “Acreditamos que os óculos vão se popularizar porque, além de uma ferramenta tecnológica, eles proporcionam experiências que vão facilitar o dia a dia das pessoas, mas isso ainda vai demorar para acontecer”.
O Google Glass começou a ser comercializado nos Estados Unidos recentemente e os primeiros lotes se esgotaram em poucas horas. Ainda não há data para o lançamento no Brasil. O Google ainda considera que o produto está em período de testes e promete aperfeiçoá-lo nos próximo mês.“Estamos esperando que os óculos cheguem no mercado brasileiro para divulgar o preço do aplicativo e para planejarmos novas ferramentas”, diz Gallasch.
USOS DIVERSIFICADOS
Mesmo ainda sem previsão da comercialização no Brasil, outras empresas também já estão se preparando para a chegada dessa nova tecnologia. O Bradesco é uma delas. O banco já criou um aplicativo que permite localizar suas agências e máquinas de pronto atendimento. Com um toque o dispositivo ativa o GPS, indica os locais mais próximos e, com ajuda do Google Maps, o melhor trajeto. Além disso, é possível localizar também os hospitais da rede que mantém convênio com o Bradesco Saúde. “Essa é uma tecnologia é disruptiva e vai mudar a forma como as pessoas interagem com a informação. Vai estar presente no dia a dia das pessoas de forma ainda mais intensa que o celular”, afirma Mauricio Machado de Minas, diretor executivo do Bradesco.
No Brasil, o Google Glass também já foi usado durante uma cirurgia. O médico Miguel Pedroso do Hospital São Camilo de Salto, interior de São Paulo, fez um procedimento de retirada do intestino grosso que foi transmitido em tempo real para uma equipe de médicos que acompanharam a operação. Ao redor do mundo, o aparelho do Google está sendo testado para diversas atividades, desde fazer check-in em aeroportos até controlar drones. “O Google Glass tem diversas finalidades que ainda precisam ser exploradas”, afirma o diretor da GeoMob.
Assista ao vídeo que demonstra como é usar o Google Glass: