Sua empresa precisa de uma mãozinha? Chame os universitários
Instituições formadas por jovens estudantes, como a Poli Júnior (na foto), oferecem serviços de consultoria estratégica e desenvolvimento de produtos com orçamentos mais em conta
Poder contar com serviços de consultorias é o sonho de muitos empreendedores, ansiosos por solucionar desafios de marketing, finanças, recursos humanos, entre outras áreas de gestão.
Sucede que o custo de consultorias especializadas nem sempre cabe no bolso de pequenas empresas.
Diante disso, uma alternativa que se apresenta é a contratação de empresas juniores, associações civis sem fins lucrativos sediadas em universidades em que estudantes prestam serviços e desenvolvem produtos com finalidade acadêmica – uma maneira de o universitário desenvolver competências e habilidades técnicas antes de entrar formalmente no mercado de trabalho.
Atualmente, há no Brasil 311 empresas juniores regularizadas pela Confederação Brasileira das Empresas Juniores (Brasil Júnior).
Entre as juniores mais atuantes, destacam-se a EJFGV, que oferece serviços de consultoria em estratégia, marketing, finanças e logística e é formada por alunos dos cursos de graduação em administração, direito e economia da Fundação Getúlio Vargas; e a Poli Júnior, formada por alunos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo que oferece serviços e produtos customizados nas áreas de engenharia mecânica, química, civil e de produção e em tecnologia.
Conheça a experiência de duas empresas de pequeno porte que contrataram empresas juniores.
QUANDO É MELHOR DESISTIR DE UM LANÇAMENTO
No início de 2014, o designer Fernando Crivelenti, dono da Studio Vero, que desenvolve instalações para pontos de venda, como displays, totens e quiosques, enxergou a Copa do Mundo como uma oportunidade para lançar um novo produto – o coolerball, um recipiente em formato de bola de futebol usado para armazenar e refrigerar latas e garrafas de bebida.
Crivelenti desejava vender a novidade para grandes cervejarias, que poderiam ofertar o coolerball em suas promoções de venda. Na época, uma cervejaria já tinha demonstrado interesse em encomendar 40 mil unidades.
Animado, Crivelenti recorreu aos serviços da EJFGV para descobrir o potencial do mercado e como posicionar a nova marca.
A alegria não durou muito. Durante a pesquisa de mercado, os planos de Crivalenti desmoronaram.
A equipe da EJFGV identificou que as cervejarias que não eram patrocinadoras oficiais da Copa do Mundo poderiam ter dificuldade para realizar ações promocionais que envolviam futebol durante o evento esportivo.
Somente os patrocinadores oficiais poderiam explorar comercialmente a Copa do Mundo – o que restringia consideravelmente o tamanho do mercado.
A própria cervejaria que tinha demonstrado interesse no coolerball cancelou o pedido após ter uma propaganda de televisão, que relacionava futebol com uma cidade-sede, retirada do ar a pedido de um concorrente, que era patrocinador oficial.
A equipe da EJFGV, então, pesquisou como seria a aceitação do produto no varejo. Também não deu certo. O produto teria bom acolhimento entre pequenos e médios lojistas, mas a receita proveniente do varejo não seria suficiente para compensar os custos de fabricação e distribuição.
O coolerbal só seria rentável se vendesse acima de 20 mil unidades – número bem superior à projeção de vendas no varejo realizada pela EJFGV.
“Os jovens profissionais da EJFGV nos ajudaram a não realizar um investimento equivocado que poderia trazer enorme prejuízo para a Studio Vero”, afirma Crivelenti.
Na avaliação do empreendedor, a Studio Vero é um negócio pequeno para contratar uma consultoria especializada e grande demais para contratar um consultor autônomo. “Uma empresa júnior foi a melhor solução para os nossos problemas”, diz.
UMA STARTUP FORA DO PAPEL
A startup Jácopiei ainda está no início de sua operação. Fundada pelo italiano Antonio Pugliese e incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia, instituição vinculada à Universidade de São Paulo, a Jácopei oferece impressões e fotocópias gratuitas aos estudantes universitários cadastrados na plataforma online da empresa.
Os custos dos serviços são pagos por anunciantes, que veiculam publicidade anexadas ao material de estudo do aluno.
Para interligar a startup, as copiadoras e as empresas anunciantes era preciso desenvolver um sistema virtual, que seria a base para o modelo de negócio da Jácopiei.
Foi nesse momento que os fundadores da startup contrataram a Poli Júnior para desenvolver uma plataforma digital e o site da empresa.
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A escolha da empresa júnior foi motivava principalmente pelo baixo custo – o serviço era menos da metade do preço de mercado. Outra questão que pesou na escolha foi o fato da Poli Júnior estar inserida no meio universitário – o público alvo da Jácopiei.
Mas nem tudo foi vantajoso. Segundo João Pedro Fabra, co-fundador da Jácopiei, os membros da Poli Júnior não tinham muita experiência em tecnologia digital.
Paralelamente, a startup fez alterações em seu no modelo de negócio (pivotou) – e a turma da Poli Júnior teve dificuldade para acompanhar as mudança e realizar as alterações necessárias na plataforma com agilidade.
O resultado foi que o prazo de entrega da plataforma pulou de seis meses para um ano e meio.
"A plataforma ficou pronta em dezembro de 2015”, afirma Fabra. “Hoje, atuamos em duas copiadoras universitárias e temos dois anunciantes locais como clientes.”