Fôlego menor da inflação favorece renda fixa em setembro
Mas no acumulado do ano, a caderneta de poupança, além de ouro, dólar e euro não conseguiram acompanhar a alta dos índices de preços
O comportamento ameno dos índices de preços em setembro proporcionou um retorno acima da inflação para praticamente todas as aplicações de renda fixa, até mesmo a poupança - que terminou o mês com rendimento líquido de 0,66% - segundo o ranking elaborado pelo administrador de investimentos Fabio Colombo.
Isso se for considerado o IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado) do mês de setembro, que ficou em 0,20%, ainda superior ao apurado em agosto, de 0,15%.
A inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ainda não foi divulgada, mas um indicador prévio - o IPCA-15 - ficou em 0,23% em setembro, menor do que o resultado de 0,45% de agosto.
Apesar desse retrato do mês, no acumulado do ano, o rendimento da poupança de 6,18% é negativo comparado ao IGP-M de 6,46% de janeiro a setembro. Nesse mesmo período, o IPCA-15 ficou em 5,90%.
Assim, com base nessas comparações, as aplicações que ofereceram rendimentos superiores na renda fixa foram os fundos de renda fixa puros, que terminaram o mês com rendimento bruto na faixa de 1,05% a 1,20%, dependendo da taxa de administração. No ano, o retorno bruto médio foi de 10,65%.
Já os fundos DI ofereceram rendimento bruto de 1% a 1,15%, dependendo da taxa de administração, acumulando no ano ganhos médios de 10,53%.
Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) tiveram um desempenho médio um pouco menor, de 0,95% a 1,10% dependendo do valor investido e do risco de crédito do banco. No ano, porém, o retorno médio, sem considerar impostos ficou em 10,15%, de acordo com o ranking.
A inflação mostrando sinais de desaceleração pode ser lida como a principal notícia do mês - já que mexeu com as expectativas do mercado, levando a taxa de juros futura (projetada para janeiro de 2021) a cair de 12,30% para 11,60%.
Além disso, o Banco Central (BC) divulgou em relatório que a inflação passa por um processo de desaceleração, o que é boa notícia. Porém, no documento, destacou que esse processo não é linear e tem uma velocidade incerta.
"A visão mais branda do Banco Central em relação à inflação abre espaço para a queda de juros na próxima reunião, em outubro. E isso animou o mercado de renda fixa", afirma André Leite, sócio responsavel pela área de investimentos da TAG.
Segundo ele, essa redução dos juros futuros traz perspectivas positivas para a economia, como a de um aumento no nível de atividade e de confiança. E isso tem impacto sobre as aplicações na renda fixa.
Para ele, é um bom momento, por exemplo, de alongar o prazo de investimento em títulos públicos prefixados (com taxas definidas no ato da aplicação) ou indexados a índices de inflação.
"A redução dos juros futuros e a maior duration (prazo médio do fluxo de caixa da aplicação) permitem um ganho percentual superior", afirma.
Para Colombo, a escolha por aplicações de prazo mais longo (alongamento) é uma boa alternativa para pós-fixados - como o título do Tesouro que acompanha a Selic - e para os que acompanham a inflação.
"O bom momento de entrar em aplicações prefixadas passou porque as taxas oferecidas estão menores. O título que acompanha o IPCA, apesar da redução, continua com um cupom de juros atrativo, de 5,9%", afirma.
Em setembro, esses títulos tiveram um retorno indicativo menor, refletindo a expectativa de inflação menor, de 0,65% a 0,80%, dependendo do prazo do papel. No ano, a rentabilidade indicativa foi de 10,44%.
Outro bom sinal de redução da taxa de juros virá do início do ajuste fiscal.
Neste mês, o mercado aguarda a aprovação da PEC do teto dos gastos, que pode ocorrer ainda em outubro, segundo uma declaração do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em um evento em São Paulo.
Para o sócio da TAG, há uma confiança na aprovação do projeto, que permitirá iniciar o ajuste nas contas públicas. Ele avalia que o presidente Temer está fazendo uma boa coordenação política com a base e lideranças.
"Se esse projeto não for aprovado será um baque para o mercado. E depois tem a reforma da Previdência", diz Colombo.
INCERTEZAS NO EXTERIOR
Sem muitos solavancos no Brasil, o que mais influenciou o resultado das aplicações de renda variável em setembro foram as incertezas no exterior, o que levou o ouro a subir de preço e registrar a maior valorização do mês. No ranking de Colombo o metal subiu 3,31%.
O Ibovespa (índice das ações mais negociadas e de maior valor de mercado da bolsa) chegou ao fim de setembro em alta de 0,80%. No acumulado do ano, os ganhos somam 34,64%.
O dólar fechou em alta de 0,66% no mês, mas a queda foi de 17,80% no ano.
O principal fato que agitou os mercados foram as dúvidas levantadas em relação à estabilidade do banco alemão Deutsche Bank, que foi condenado a pagar uma multa de até US$ 14 bilhões nos Estados Unidos. A penalidade está ligada à participação do banco nas negociações de títulos, seguidos da crise financeira e imobiliária de 2009.
Além disso, as eleições norte-americanas também movimentaram os mercados, influenciando os preços dos ativos em todas as bolsas. "O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) decidiu manter a taxa de juros e isso deu fôlego para as outras bolsas. O Brasil foi junto", diz Colombo.
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