Expectativas levam dólar comercial a recuar para R$ 3,15
Em dois dias, queda é de 4,37% por sinalização de que haverá cautela para subir os juros nos Estados Unidos. Consultoria diz que movimento de alta não acabou
O dólar à vista no balcão deu sequência ao movimento iniciado na sexta (20/3) e fechou em baixa pelo segundo dia consecutivo nesta segunda (23/3), com queda acumulada de 4,37%.
O dólar comercial fechou cotado a R$ 3,15, um recuo de 2,66% no dia, o menor patamar desde o dia 11 de março. O dólar turismo caiu 2,04% e ficou em R$ 3,37.
O desempenho do dólar foi determinado pelo exterior, onde a moeda norte-americana perdeu valor de forma generalizada, afetada pelas apostas de que o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) deverá subir o juro nos EUA somente no segundo semestre.
A percepção de que o Fed não deverá mexer nas taxas de juros nas próximas reuniões e, quando o fizer, será de forma bastante cautelosa, vem provocando a queda do dólar ante as principais moedas.
Isso ocorre desde a divulgação da ata da reunião da autoridade monetária dos Estados Unidos, realizada na quarta (18/3).
Hoje, no entanto, a expectativa de que esse aumento na taxa de juros será feito com cuidado foi reforçada após declarações do vice-presidente do Fed, Stanley Fischer.
Ele disse que os juros do país devem subir ainda neste ano, mas alertou que é improvável que os movimentos seguintes sejam apenas para cima.
Segundo ele, porém, a decisão de aumentar os juros será comunicada por uma ampla gama de informações sobre as condições do mercado de trabalho, inflação e evolução financeira e internacional dos Estados Unidos.
No Brasil, o recuo do dólar em relação ao real foi mais acentuado do que sobre as demais moedas emergentes porque recentemente o real vinha sendo comparativamente bem mais castigado.
Operadores destacaram ainda que, nos últimos dias, tem ajudado a moeda brasileira um movimento gradual de redução de posições compradas em dólar no mercado futuro.
Em relação ao programa de swap cambial (contratos de venda de dólares no mercado futuro) do Banco Central (BC), que deve terminar no final deste mês, o mercado aguarda alguma sinalização da autoridade monetária sobre uma eventual prorrogação.
O que já está embutido no valor da taxa de câmbio hoje é que a rolagem dos vencimentos de abril será feita parcialmente. Do total de US$ 9,964 bilhões, US$ 2,194 bilhões devem ser recolhidos.
Como pano de fundo, o mercado continua acompanhando atentamente o noticiário da crise política e os sinais de apaziguamento também contribuem para a queda do dólar.
PARA CONSULTORIA, MOVIMENTO DE ALTA NÃO ACABOU
Apesar do recente enfraquecimento da moeda norte-americana, o movimento de alta ainda não acabou, diz a consultoria Capital Economics.
A previsão da consultoria é de que o dólar atinja a paridade (igualdade) contra o euro neste ano e suba para 140 ienes, enquanto a libra deve tocar US$ 1,40. Hoje o euro está cotado a US$ 1,09 e a 119,63 ienes e a libra está em US$ 1,49.
"Nossa visão é de que os fundamentos econômicos devem apoiar o dólar contra outras moedas importantes por um longo período", afirma a consultoria.
Após clara tendência de alta nos últimos meses, a trajetória no dólar foi invertida na semana passada quando dirigentes do Fed apontaram que a atividade econômica e a inflação ainda estão fragilizadas e que uma elevação dos juros deve demorar mais que o esperado anteriormente.
A Capital Economics aponta que há um descompasso entre as expectativas do mercado e o futuro aperto monetário nos EUA.
"As autoridades do Fed ainda esperam apertar (a política monetária) de maneira mais agressiva do que os mercados estão prevendo, principalmente no ano que vem, mesmo após terem reduzido suas projeções na semana passada", diz a consultoria ao lembrar que uma elevação dos juros em junho não foi descartada.
Além disso, os mercados já estão posicionados para uma maior força do dólar e, portanto, não há muito espaço para que o desenrolar dessas posições desencadeie uma forte correção.
Embora oscilações no sentimento dos investidores possam criar alguma volatilidade adicional de curto prazo, a Capital Economics dá muito mais peso para os fundamentos que sugerem que o dólar "pode e deve subir ainda mais".