Bolsa encerra em queda no primeiro mês de 2015
Desdobramentos dos escândalos na Petrobras continuam a puxar o índice de ações para baixo. Ouro e renda fixa ofereceram maior retorno
Apesar de ter começado com muitos ajustes na economia, 2015 ainda não está tão diferente do ano passado. Pelo menos no que se refere ao rendimento das aplicações financeiras.
A bolsa de valores, que fechou 2014 na lanterna, continua com retorno negativo na comparação com outros ativos e encerrou janeiro em queda de 6,20%.
O que continua a puxar para baixo o Ibovespa (índice que reúne as ações mais negociadas e de maior valor de mercado na bolsa) são os escândalos na Petrobras, que começaram no ano passado e continuam repercutindo no mercado neste início de 2015.
Hoje, a ação PN (preferencial, sem direito a voto) da Petrobras caiu 6,51%, acumulando no mês uma queda de 18,36%.
O mau humor do mercado em relação ao papel piorou com o rebaixamento da nota de classificação de risco de crédito da estatal para BAA3 pela agência internacional Moody’s, na madrugada. A agência ainda deixou clara a possibilidade de novos rebaixamentos na nota, o que na prática significa que aumentou o risco de calote da empresa. A medida foi tomada após a Petrobras divulgar um balanço não auditado.
Além disso, os resultados do setor público (governos federal, estadual e municipal), divulgados hoje, mostram um déficit primário de R$ 12,894 bilhões em dezembro, o pior resultado para o mês desde 2001.
Fabio Colombo, administrador de investimentos, diz que outras notícias também não ajudaram a bolsa, começando pelos ajustes efetuados pela nova equipe econômica, que resultaram em aumento de impostos, e a perspectiva de que a inflação e os juros continuarão altos, enquanto a projeção de crescimento só diminui. Soma-se a isso a possibilidade de racionamento de água e de energia, que refletirão no desempenho da economia.
Ele avalia que, ao mesmo tempo que esses dados afugentam o investidor estrangeiro de papéis da Petrobras e de outras ações na bolsa brasileira, dados da economia internacional mostram aumento da confiança nos Estados Unidos e incentivos à economia da Europa, como início do programa de compra de títulos pelo Banco Central europeu neste mês.
O programa de estímulos na Europa, no qual a autoridade monetária local vai injetar dinheiro na economia, fizeram o euro se desvalorizar frente ao dólar e, consequentemente, em relação ao real. A moeda europeia fechou em queda de 6,31% em janeiro.
Esse movimento, na opinião de Colombo, também explica em parte a valorização do ouro no mês, que foi de 7,50%. “Com os juros baixos na Europa, os investidores tendem a migrar para ativos reais como o ouro. A alta do metal também está relacionada com a valorização do dólar, já que ele é cotado nesta moeda”, afirma.
O dólar, que acumulava desvalorização até ontem, voltou a subir hoje e encerrou o mês com valorização de 1,01%. “O ministro Joaquim Levy disse hoje que não fará força extra para segurar a cotação do dólar, o que fez a moeda subir. Isso pode beneficiar empresas que exportam, mas ainda há a preocupação com a inflação. É difícil falar sobre uma tendência para a moeda porque ainda há a possibilidade de aumento de juros nos Estados Unidos, o que influencia a taxa de câmbio de todos os países”, diz o administrador.
RENDA FIXA E OS JUROS
Com o aumento da taxa de juros Selic neste mês para 12,25% ao ano, a renda fixa acumulou bons resultados. Na opinião de Colombo, a última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, mostra que ainda há tendência de aumento da Selic.
Isso porque a inflação deve demorar a dar sinais de queda neste começo de ano. A projeção de Colombo para a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro é de 1,24%. O índice oficial será divulgado na semana que vem.
Com isso, os títulos públicos indexados ao IPCA devem encerrar o mês com rentabilidade de 1,60% a 1,75% e, ao longo do mês de fevereiro, a tendência é que continuem oferecendo um bom retorno.
Os fundos de renda fixa podem apresentar resultados voláteis em fevereiro por causa da marcação a mercado dos títulos (a atualização diária da carteira a valor de mercado). Nessa atualização, o valor leva em consideração os juros futuros, que favoreceram a aplicação neste mês. O rendimento dos fundos de renda fixa em janeiro foi de 1,10% a 1,25%, dependendo da taxa de administração.
Segundo Colombo, os fundos DI devem continuar com bom desempenho em fevereiro por causa da alta dos juros. Neste mês, renderam de 0,85% a 1%, dependendo da taxa de administração do fundo.
Os CDBs (Certificados de Depósito Bancário), que ofereceram retorno de 0,80% a 0,95% em janeiro, de acordo com o valor investido, devem ter desempenho similar aos fundos DI em fevereiro, com remuneração indicativa de 85% a 110% do rendimento do CDI (Certificado de Depósito Interbancário, taxa praticada entre bancos).
Na renda fixa, apenas a poupança ofereceu retorno abaixo da inflação medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado). A caderneta com aniversário no dia 1° de fevereiro rendeu 0,59%, menos do que o IGP-M de 0,76% de janeiro. “Só é interessante para investidores que não têm acesso a outras aplicações na renda fixa”, diz Colombo.