Como no futebol, Brasil pode ser rebaixado de novo
A avaliação é do ministro Joaquim Levy, sobre o aviso da Moody's de que pode retirar o grau de investimento do país. Mercado financeiro reage mal, com a alta do dólar e queda da bolsa
Um dia depois da agência de classificação de risco Moody's avisar que está revisando a nota brasileira para um possível rebaixamento, o governo admitiu que mais uma perda de grau de investimento é possível.
No mercado financeiro, a crença é que o Brasil pode ser rebaixado por todas as agências. O aviso repercutiu de forma negativa, com a alta de 1,7% do dólar comercial, que voltou a fechar acima de R$ 3,80 nesta quinta-feira (10/12). O índice Ibovespa, que reúne ações mais negociadas e de maior valor de mercado da bolsa, caiu 1,04% e encerrou o pregão em 45.630 pontos.
Joaquim Levy, ministro da Fazenda, admitiu nesta quinta-feira (10/12) que o Brasil pode perder o grau de investimento e ter o grau de risco da dívida externa rebaixado pelas agências de classificação. Já a Bradesco Asset Management (Bram) estima que é alta a probabilidade do pais perder o grau de investimento de todas as agências internacionais de classificação de risco de crédito.
“A questão do rebaixamento é reflexo da realidade. É que nem campeonato de futebol: se você não se organiza, não consegue ter união, e o resultado é sério. Evidentemente, você tem que trabalhar e tentar voltar para a divisão a que você acha que pertence”, disse Levy, ao ser perguntado sobre o tema, após participar de almoço de fim de ano promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
No fim da tarde de quarta-feira (09/12), a agência Moody's anunciou que mudou para negativa a perspectiva da classificação de risco do país. Caso o Brasil seja rebaixado, perderá o grau de investimento, garantia de que o país não corre o risco de dar calote na dívida pública.
Segundo a Moody's, a incerteza política, decorrente da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, cria dificuldades para a aprovação de medidas de redução de gastos e aumento de tributos.
Segundo a Moody's, atualmente, a nota do país é Baa3, último nível dentro do grau de investimento. Em setembro, a agência Standard & Poor's havia excluído o Brasil dessa categoria. Caso mais uma agência rebaixe o país, os fundos de investimento internacionais não poderão mais aplicar recursos no Brasil, ocasionando a fuga de capitais do país.
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Levy, no entanto, minimizou os impactos do rebaixamento nas contas públicas, mas destacou que o governo não encara como “normal” a possível perda do grau de investimento.
Em nota, o Ministério da Fazenda informou que essa revisão da nota do Brasil poderá levar até 90 dias a partir de quarta-feira (09/12), sendo que a opinião da agência remete às dificuldades oriundas do ambiente político e da capacidade do governo em implantar medidas para corrigir e executar políticas que levem a resultados fiscais consistentes com uma trajetória mais positiva de endividamento público.
“A dívida externa do governo, que é aquela que tem o rating [avaliação de risco], é relativamente pequena. Uma proporção de 1/15 das nossas reservas internacionais. Então, não há risco de a gente não querer, ou não poder, pagar essa dívida”, disse Levy.
Por outro lado, acrescentou, a dívida doméstica vem crescendo e aponta para a importância de fazer uma série de reformas para permitir ao Brasil voltar a crescer. De acordo com Levy, a instabilidade política tem tido efeitos na economia.
“As metas econômicas estão sendo altamente influenciadas pelos fatores externos, inclusive, os de natureza política”, enfatizou. Levy lembrou que medidas relativas a questões tributárias têm de ser votadas ainda este ano para ter efeito a partir de 2016.
REBAIXAMENTO DE TODAS AS AGÊNCIAS
Fernando Honorato Barbosa, economista chefe da Bradesco Asset Management (Bram), gestora de recursos da instituição, afirmou nesta quinta-feira (10/12) em conferência de projeções para 2016, que "com alta probabilidade perderemos o grau de investimento por todas as agências de investimento".
Para ele, o cenário brasileiro para o início do próximo ano dependerá "do equacionamento do déficit público", independente de quem estiver no governo.
"Se o equacionamento de forças políticas melhorar as contas públicas, há espaço para a melhora de ativos, mas, sem ajuste fiscal encaminhado, teremos preços bastante piores, com câmbio de R$ 4,80 a R$ 4,90", disse.
"Esse quadro fiscal terá de ser enfrentado por quem quer que esteja no país nos próximos anos", completou ele sobre a crise política e a abertura do processo de impeachment que pode afastar a presidente Dilma Rousseff.
Honorato avalia que o déficit fiscal será de R$ 120 bilhões este ano e que o Brasil deve fechar com R$ 55 bilhões de déficit em 2016. "A dívida bruta (dívida local mais externa) sai de 51% do PIB em 2011 para 77% do PIB em 2017, e nem somos tão pessimistas", comentou.
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* Com informações de Agência Brasil e Estadão Conteúdo