Comércio ajuda, mas crédito deve continuar moderado em 2015
Expectativa do Banco Central é de crescimento menor do crédito total em 2014 e de estabilidade no patamar de 12% no ano que vem
O comércio ajudou a puxar o estoque de crédito das empresas em novembro, mas não o suficiente para mudar uma tendência de desaceleração do crescimento geral, que começou em 2011. O estoque de recursos emprestados para famílias e empresas deve encerrar 2014 com um aumento de 12% sobre o ano passado. E não é só isso. O Banco Central espera que este seja o mesmo percentual de crescimento para o crédito total em 2015.
Em outras palavras, a cautela nas concessões de empréstimos e financiamentos tende a se arrastar pelo próximo ano. Em 2013, o crédito cresceu menos, ou 14,6% sobre o ano anterior. Em 2012, a variação anual também foi menor, de 16,4%. O mesmo ocorreu em 2011, quando o incremento no crédito foi de 18,8%, inferior aos 20,6% alcançados em 2010.
Em novembro, o estoque de crédito chegou ao valor de R$ 2,963 trilhões no país, um aumento de 1,3% na comparação com outubro. No ano, o crescimento acumulado foi de um dígito: 9,1%. No mês passado, o aumento do crédito foi puxado pelas empresas, para as quais a alta foi da ordem de 1,6%.
O crédito para os consumidores subiu 0,9% no mês. No acumulado do ano até novembro, a posição se inverte e o crédito para pessoas físicas cresceu 11%, mais do que os 7,5% para as empresas.
Em novembro, o crédito com recursos livres (captados pelos bancos) para empresas somou R$ 779 bilhões, com destaque para o crescimento de linhas de capital de giro, conta garantida (cheque especial do empresário) e a antecipação de recebíveis. O estoque de crédito para os consumidores foi de R$ 774,6 bilhões, e as modalidades que mais cresceram em novembro foram o consignado e o rotativo do cartão de crédito.
As operações de empresas no crédito direcionado (subsidiado pelo governo) totalizaram R$ 795 bilhões, alta de 1,5% no mês, puxada por linhas de financiamento para investimentos com recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Para 2015, o Banco Central avalia que as operações do BNDES deverão ser moderadas, e um indicador é o aumento da Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP), aplicada no crédito direcionado para investimentos, que subiu de 5% para 5,5%.
Para as famílias, o crédito direcionado alcançou R$ 615 bilhões em novembro, com incremento de 1,9% no mês, influenciado pelas linhas de financiamento imobiliário e rural.
Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central, disse em coletiva de imprensa que a expansão no crédito para empresas acompanhou a sazonalidade da atividade econômica no fim do ano.
O comércio, que costuma puxar o ritmo de consumo nesta época de Natal e Ano-Novo, foi mais dinâmico. Os dados do BC mostram que o crédito para este setor atingiu R$ 249,2 bilhões em novembro e cresceu 2,4% sobre outubro, mais do que em outros setores. O crédito para o setor de serviços subiu 1,5% e para a indústria, 1,3%.
Maciel também comentou os números gerais e disse que o crescimento menor do crédito total está dentro do esperado pelo BC e em linha com um ambiente de inadimplência estável. “A taxa de inadimplência está historicamente baixa”, afirmou.
No último mês, a inadimplência no crédito com recursos livres foi de 4,9%, levemente menor do que os 5% apurados em outubro, taxa que estava praticamente congelada há cinco meses. Nesta modalidade de crédito, a inadimplência do consumidor permaneceu em 6,5% no último mês e a de empresas caiu de 3,6% em outubro para 3,5% em novembro.
Já no crédito direcionado, a inadimplência permaneceu no patamar baixo de 1% de outubro para novembro.
LINHA DE EMERGÊNCIA AUMENTA RISCO DE INADIMPLÊNCIA
Os dados do BC mostram que a inadimplência, apesar de estável, cresceu em linhas de maior custo, e isso pode ser considerado um alerta para 2015, segundo análise da MCM Consultores.
Em nota, economistas da consultoria avaliaram que a inadimplência das famílias deve permanecer controlada por causa da composição dos empréstimos e da seletividade maior dos bancos, mas eles não descartaram uma piora desta variável em 2015. “O aumento de concessões em modalidades rotativas de crédito (como cheque especial e cartão), tidas como linhas emergenciais, sinaliza risco de inadimplência daqui para frente”, disseram em nota.
Os dados do Banco Central mostram que a inadimplência da pessoa física com o rotativo do cartão de crédito subiu de um patamar de 36,7% em outubro para 38,5% em novembro. No ano até o mês passado, acumula alta de 2,5%. No cheque especial, a inadimplência do consumidor passou de 10,7% para 11,1% na comparação mensal e cresceu 1,8% no ano.
As empresas, por outro lado, registraram queda na inadimplência nessas duas linhas em novembro. No ano, porém, os atrasos de pagamentos aumentaram. De janeiro a novembro, a inadimplência das empresas subiu 3,2% no cheque especial e 19,5% no cartão de crédito rotativo e parcelado em relação a igual período de 2013.
Com limite pré-aprovado pelos bancos e facilidade de acesso, o cheque especial tem alto custo para consumidores e empresas. A taxa média de juros do cheque especial para o consumidor passou de 187,8% ao ano em outubro para 191,6% ao ano em novembro. Na comparação mensal, a taxa média para empresas passou de 178,6% ao ano para 180,8% ao ano.
Maciel, do BC, disse que espera uma queda da inadimplência nas operações com cheque especial em dezembro por causa do pagamento do décimo-terceiro salário. “É preciso usar o cheque especial de forma consciente e com moderação”, afirmou.
*Estadão Conteúdo