Comércio ainda derruba PIB calculado pelo Itaú
Em 12 meses, o indicador acumula queda de 4,7%, maior recuo desde o início da série histórica, em 2003
O PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas do país) mensal calculado pelo Itaú Unibanco (PIBIU) caiu 0,2% em abril ante março - após ajuste sazonal - e recuou 4,1% na comparação com abril do ano passado.
Em 12 meses, o indicador acumula queda de 4,7%, o maior recuo desde o início da série histórica, em 2003. Na margem, houve retração de dez dos itens que compõem o indicador, que têm difusão de 50%.
"Observando-se a desagregação por atividades, o resultado do mês foi puxado pela queda nas vendas no varejo ampliado (-1,4%). Além disso, nossa proxy de outros serviços (inclui serviços de alojamento, domésticos, entre outros) recuou 0,7%. Pelo lado positivo, a indústria de transformação cresceu 0,2%", diz o Itaú em relatório.
Para maio, o banco espera nova contração do PIBIU, de 0,3%, com uma relativa estabilização da atividade econômica a partir do segundo semestre.
Segundo o Itaú, em maio a atividade foi pressionada pela contração na produção industrial, consistente com os principais indicadores coincidentes já divulgados, incluindo dados de produção de veículos, movimento de veículos pesados nas estradas, expedição de papelão ondulado, entre outros.
"Assim, o PIB mensal sugere nova queda da atividade econômica (ou seja, o PIB oficial do Brasil, calculado pelo IBGE), no segundo trimestre", diz a equipe de pesquisa macroeconômica da instituição.
FGV ESTIMA RECUO DE 3,5% EM 2016
O PIB deve fechar 2016 com uma queda de 3,5% e não 4% como previsto anteriormente. A perspectiva foi apresentada pela coordenadora técnica do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), Silvia Matos, no Seminário de Análise Conjuntural de 2016, organizado pela entidade.
A projeção coincide com a expectativa divulgada pelo Banco Central com base em pesquisa com instituições financeiras, que preveem retração de 3,6% do PIB este ano. Antes, a projeção do mercado era de queda de 3,71%.
Para Silvia Matos, apesar da revisão, a queda no PIB ainda será muito forte, mas alguns setores estão dando sinais de melhoras, principalmente a indústria de transformação.
Em compensação, segundo ela, há outros setores em situação muito ruim, como o de serviços, e o nível de investimento e o consumo das famílias estão abaixo do necessário.
“Olhando todos estes números a gente acredita que 2017 ainda será fraco. Esse é o ponto importante. Vai ser melhor do que este ano, mas ainda não dá para estimar um crescimento forte de 2% ou até em torno de 1%. O nosso número ainda mostra uma certa estagnação.”
Além da retração do PIB, a inflação continua sendo um problema, porque tem se mostrado resistente, segundo a coordenadora.
A inflação alta impede a redução da taxa de juros e, em consequência, a retomada da economia. Para a analista, só será possível alcançar o centro da meta de inflação (4,5%) em 2018.
“Para chegar [à meta] em 2017, a gente precisaria de uma recessão ainda em 2017, o que ninguém gostaria. Ou uma supervalorização cambial, porque o câmbio ainda mais valorizado poderia levar a inflação à meta. O problema é que o câmbio depende do cenário externo e também do cenário doméstico. Como a gente tem muitos riscos, é um pouco precipitado achar que a gente vai atingir o centro da meta em 2018”, calculou.
“Não adianta nada a gente crescer rapidamente em 2017, com uma inflação alta, e em 2018 ter que retomar uma subida de juros. Acho que a gente vai devagar e sempre. Acho que este é o ponto importante”, completou.
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