PT continuará a derreter nas eleições de 2018
Em palestra na ACSP, o cientista político Antônio Lavareda (à direita), especialista em eleições, disse que a história eleitoral associa maus resultados nas municipais às eleições seguintes
O futuro imediato do Partido dos Trabalhadores não é nem um pouco brilhante, segundo todos os diagnósticos reunidos pelo cientista político Antônio Lavareda, em palestra nesta segunda-feira (10/10), na Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Além de ter feito apenas 254 prefeitos no primeiro turno de 2 de outubro, em vez dos 638 nas eleições municipais de 2012, há a nítida previsão de que o resultado desfavorável se repita em 2018.
Lavareda usou uma comparação histórica entre os resultados municipais e as eleições subsequentes que escolhem deputados, senadores, governadores e o presidente da República.
Pela comparação, a total coincidência seria igual a 1, e a descoincidência completa seria igual a 0. Pois nas quatro últimas eleições municipais esse índice nunca foi inferior a 9. E, desta vez, ficou em 9,5.
Ou seja, o péssimo resultado do PT tende a se repetir quando da renovação dos Executivos estaduais e federal, assembleias legislativas, deputados federais e uma parte dos senadores.
Lavareda foi o palestrante da sessão plenária da ACSP, em encontro conjunto com o Conselho Político e Social (COPS), coordenado pelo senador Jorge Bornhausen. Os trabalhos foram presididos por Alencar Burti, presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp).
O cientista político, coordenador do livro “A Lógica das Eleições Municipais”, que trata das eleições de 2012, disse que agora os fracos resultados do PT refletem um estelionato eleitoral (reeleição de Dilma, em 2014) semelhante ao que vitimou em 1988 o PMDB.
O partido derreteu naquele ano, no plano municipal, depois que os eleitores acreditaram, em 1986, que poderiam, por meio dele, salvar do fracasso o Plano Cruzado de combate à inflação.
Diante de cenários pessimistas, o PT, diz Lavareda, está na encruzilhada entre passar por um processo de redefinição de sua própria imagem, o que permitiria sua reemergência eleitoral a longo prazo. Ou então “petrificar sua atual imagem negativa”, o que correria caso o ex-presidente Lula desejar e estiver em condições de se recandidatar ao Planalto.
PRÓXIMO PRESIDENTE
Tudo indica, portanto, que em 2018 será eleito um presidente do bloco de centro ou centro direita. Referindo-se ao perfil aceitável desse candidato, Lavareda lembrou de pesquisas qualitativas feitas em 1994.
Naquela época, em todas as regiões pesquisadas, o atributo que os eleitores definiram como fundamental foi a honestidade. O que se contrapunha à imagem do peemedebista Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo, e à do próprio ex-presidente Collor, que sofrera dois anos antes o impeachment. Na época foi eleito Fernando Henrique Cardoso.
As condições destes próximos dois anos serão bem parecidas. Mas quanto a saber qual seria o candidato, Lavareda afirma, bem-humorado, que a resposta será dada em Curitiba pela Lava Jato (quem estiver em liberdade ou não estiver indiciado.
O cientista político também qualificou de infundada a tese segundo a qual a abstenção, os votos em branco e nulos refletiriam agora o ceticismo do eleitorado. Esse número atingiu desta vez 28,9% do eleitorado paulistano. Mas em Manaus ele foi de apenas 17,6%.
A questão está, em verdade, na biometria. Ou seja, no recadastramento do eleitorado, dando baixa naqueles que morreram ou mudaram de domicílio eleitoral.
O cientista político acredita que a insistência de parte da mídia na suposta alienação do eleitorado de São Paulo partiu de setores interessados em desmerecer a vitória de João Doria (PSDB).
Aliás, deixou de ser notado, em 2012, o fato de Haddad ter sido eleito com uma abstenção, votos brancos e nulos de 39,3% dos eleitores – bem maior que em 2016.
REDES SOCIAIS
Lavareda minimizou o papel das redes sociais nos grandes centros urbanos, onde partidários de candidaturas alimentavam suas postagens com material institucional que os candidatos produziam para o rádio e a televisão.
As redes foram importantes em municípios menores, que não têm campanha na mídia eletrônica. Os candidatos a prefeito e a vereador produziram para elas apelos ao eleitorado.
Por acreditar que em 2018 “dificilmente se voltará ao financiamento das campanhas por empresas”, o cientista político diz que a mesma fórmula de 2016 acabará prevalecendo. Ele citou a vantagem de Doria por ter direito a mais tempo de televisão.
Por fim, Lavareda e os integrantes do COPS discorreram e concordaram sobre a necessidade de impor uma cláusula de barreira para que os partidos possam ser representados na Câmara dos Deputados.
Na Itália, disse ele, 44 partidos disputaram a última eleição, mas só três conseguiram eleger 75% dos representantes. Na Espanha, são mais de 100 partidos, mas a cláusula de barreira filtra aqueles que podem ocupar uma cadeira na Câmara.
Em outras palavras, o problema não é o excesso de partidos. É a fragmentação das bancadas, fato que obriga o Executivo a se aliar a no mínimo oito partidos para que possa atingir a maioria qualificada de dois terços na Câmara dos Deputados.
FOTO: Mariana Serrain