Olhos no céu, paulistanos se despedem de 2016
Ritual que se repete há 24 anos, a festa dos balões promovida pela Associação Comercial de São Paulo inspirou-se numa mensagem de esperança: #queoBrasil sorria
Por Karina Lignelli e Wladimir Miranda
Nos céus do coração de São Paulo, 50 mil balões coloridos subiram no penúltimo dia de um ano que, para a maioria dos brasileiros, com certeza não vai deixar saudades.
Os olhos de quem estava no Páteo do Colégio às 12h30min desta sexta-feira (30/12), fitavam o horizonte, na esperança de que, no próximo ano, esses balões com as cores da bandeira nacional simbolizem a volta dos empregos em 2017.
Afinal, o exército de desempregados brasileiros não para de crescer. As últimas pesquisas dão conta de que 12,1 milhões buscaram neste ano, sem sucesso, uma vaga no mercado de trabalho.
A festa dos balões biodegradáveis é um ritual que se repete há 24 anos. Trata-se de um evento promovido pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e a Facesp, que agrupa 420 entidades do setor.
Para Marcel Solimeo, economista-chefe da ACSP, os balões, todos representando um emoji com a frase “#que o Brasil sorria”, se reveste neste ano de um significado ainda mais relevante do que no passado.
“Queremos que os balões levem embora os problemas que todos nós enfrentamos em 2016 no país, especialmente na parte econômica. E que tragam melhores momentos. O país precisa se recuperar, urgentemente. Precisamos de empregos”, diz Solimeo.
Como um mantra, o apelo por mais empregos, pela recuperação imediata da economia, estava na boca de quem foi ao Páteo do Colégio.
Uma das primeiras a chegar ao local há pelo menos cinco anos para acompanhar a soltura dos balões, a dona de casa Célia Maciel Esmeraldo afirma que participar desse evento se tornou um hábito pois sempre traz esperança para o que vem pela frente.
Para ela, 2017 deve ser o ano em que o governo “cumpra o que prometeu para melhorar a educação e a saúde das pessoas.”
E trazer um emprego para o seu filho, que também se juntou ao contingente de profissionais demitidos em 2016. “Minha expectativa é que o novo ano seja só de alegria e bênçãos”, diz Célia Maria.
Humberto Cabral, economista da Secretaria da Fazenda, torce pela redução da taxa de desempregos. Mas também tem ambições mais amplas. Quer que os brasileiros recuperem outros valores, a seu ver tão importantes quanto vagas.
“Precisamos resgatar a dignidade. O caminho foi aberto com as investigações da Lava Jato. Muita coisa boa aconteceu em 2016. Eu acho que o país está no caminho da seriedade em todos os setores”, afirmou.
Bianca Fernandes também fitava o céu, com expectativa de que os balões retornem trazendo mais prosperidade.
“Eu, como todos os brasileiros, espero que tudo melhore. Precisamos ter fé, esperança. 2016 foi desalentador. Mas só nos resta acreditar que tudo vá melhorar”, afirmou.
Em horário de almoço, a operadora de telemarketing Clécia Juliani, se dizia encantada com o privilégio de assistir aos balões sobrevoarem os céus da capital paulista para receber 2017.
“O Brasil precisa melhorar, e esperamos que, com tudo o que aconteceu, melhore de verdade”, afirma.
Mas o que ela quer mesmo é ganhar muito dinheiro no ano que vem. Como? “Para quem não é corrupto, só correndo atrás!”, brinca.
Maira Gomes, responsável pelo setor de logística de uma empresa de autopeças, clama pelo surgimento capazes de melhorar a situação do país.
“Estamos nesta situação por falta de líderes. O povo precisa de pessoas em quem possa confiar. Estamos órfãos”, disse ela.
As colegas de trabalho e funcionárias do Metrô Regina de Almeida, Célia Regina Mensoni e Maria Aparecida Soares são adeptas fiéis do evento anual da ACSP desde 2003.
Todas aprovaram o tema deste ano (#Que o Brasil Sorria), pois acreditam que, além de os balões transmitirem “energia, emoção e alegria”, dá para entrar 2017 com uma dose de otimismo.
“Quando há vida e pessoas que querem fazer o certo, dá para sorrir sim”, disse Regina. “Foi um ano complicado, mas sempre dá para esperar que, depois de tantas dificuldades, as pessoas se conscientizem”, disse Célia.
“Sempre dá para construir um mundo melhor e sem corrupção. Temos que acreditar”, acescentou Maria.
IMAGENS: Wladimir Miranda, Danielle Pessanha e Filipe Cilento (Vídeo