Lula e Dilma acham que podem voltar. E eles têm cacife para isso
Datafolha e MDA dão boas chances para Lula em 2018. Mas ele pode escorregar na Lava Jato, por mais que a militância petista insista que é apenas uma "vítima de perseguição"
Luís Inácio Lula da Silva quer se reeleger presidente da República em 2018. E Dilma Vana Rousseff manifestou pela primeira vez a vontade de disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados ou no Senado.
O plano de Lula é mais conhecido. Ele ficaria inelegível se fosse condenado em segunda instância num dos cinco processos em que é réu, três deles na Lava Jato.
Dilma disse que poderia ser candidata em entrevista na última sexta-feira (17/02) à agência de notícias francesa AFP.
Ela só perderá a elegibilidade se a Justiça Eleitoral a condenar, ao fim do longo processo sobre a origem do dinheiro para sua campanha de 2014. Dilma está sendo processada em companhia de seu então vice, Michel Temer.
Mas ela mantém, por enquanto, seus direitos políticos apesar de ter perdido o mandato em 31 de agosto do ano passado.
Isso em razão de manobra patrocinada pelo senador Renan Calheiros e pelo ministro Ricardo Lewandovski, que presidia no Senado a sessão do impeachment em nome do Supremo Tribunal Federal (STF).
Lula e Dilma significariam a “repetização” do país. E ambos acreditam ser este um cenário possível.
O caso de Lula é espantoso pela reanimação de um personagem muito próximo, depois das eleições municipais de outubro, da condição de um cadáver político.
Apenas para lembrar: o PT elegeu um único prefeito de capital (a insignificante Rio Branco, no Acre) e ganhou em apenas 256 prefeituras, em lugar das 630 que havia conquistado em 2012.
O PT NÃO SOFREU HEMORRAGIA DE MILITANTES
Uma das previsões que então circularam era de que o partido se desidrataria com a evasão maciça de militantes. O primeiro caso foi o de Cândido Vacarezza, ex-deputado federal, desencantado com as revelações sobre a sangria na Petrobras.
Por volta de novembro circulava dentro e fora do PT a tese de que só uma profunda renovação interna permitiria que partido sobrevivesse, ainda que menorzinho. Para tanto, precisaria se desfazer de seus velhos cardeais.
Lula se movimentou em sentido oposto e saiu ganhando. Voltou a se comportar como “o chefe”, com todos os absurdos retóricos que costuma cometer, como a reiteração da ideia de que o PT é perseguido por suas políticas de inclusão dos mais pobres, e não pelos descalabros cometidos por parte de seus dirigentes.
Pesquisas do Datafolha e do MDA afirmam, apesar dos quase dois anos ainda pela frente, que Lula é o nome favorito para suceder o atual ocupante do Planalto.
Sua ascensão se dá em razão da sensação, forte embora difusa, de que Temer não tira o país da recessão com a rapidez necessária Para os eleitores, o desemprego ainda elevado é um critério maior que equilíbrio fiscal ou queda vertiginosa da inflação.
O desemprego será o último indicador no cronograma da recuperação econômica. Caso ele deixe a taxa de quase 12% e volte a algo próximo de 5% ou 6%, a candidatura presidencial de Lula também tende a decrescer.
O conjunto dos indicadores econômicos indica que o governo chegará a 2018 à frente do PT. Mas o jogo eleitoral não será decidido apenas pela qualidade da atual gestão da Petrobras, da reputação da equipe econômica junto ao mercado ou da volta ao crescimento do PIB.
O horizonte é bem mais nebuloso em razão da Lava Jato e das delações dos 77 executivos da Odebrecht. Um episódio que tem tudo para ser um “tsunami”, respingando sobre partidos políticos da esquerda e da direita.
Foi o que disse ainda nesta segunda-feira (20/02), em entrevista a O Estado de S. Paulo, Carlos Fernando dos Santos Lima, procurador da República em Curitiba e segundo homem da Lava Jato, depois do juiz Sérgio Moro.
Ao longo dos últimos quatro meses foram os vazamentos das delações de executivos da Petrobras e de empreiteiras que provocaram a erosão eleitoral dos candidatos às próximas eleições presidenciais.
LULA E AS PESQUISAS ELEITORAIS
Dois exemplos. No último levantamento Datafolha de 2016 (12/12), o tucano Aécio Neves detinha 11% das intenções de voto, Geraldo Alckmin, 8%, e José Serra, 9%.
Aparecem todos atrás de Marina Silva (Rede), mas em todos os cenários quem encabeçaria a votação seria Lula. Ele perderia apenas de Marina no segundo turno.
Na pesquisa MDA, encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Aécio, na pesquisa espontânea (sem a apresentação de nomes), ficaria com apenas 2,2%, atrás de Lula, Marina e do deputado Jair Bolsonaro (sem partido-RJ).
Na pesquisa Datafolha, Lula – detentor da maior rejeição -obtém 25%, quando o adversário tucano é Aécio.
Uma pergunta óbvia: Lula é réu, enquanto seus concorrentes do PSDB são apenas citados em delações. Por que é, então, que o nome dele não sofre uma erosão ainda maior?
Ao que tudo indica, o eleitorado petista aceita passivamente a tese de que a máquina montada em Curitiba faz parte da suposta conspiração para levar o ex-presidente à cadeia e tirar dele a possibilidade de voltar a governar o país.
Ou seja, ele seria perpetuamente inocente, nas versões que o semanário Carta Capital e os blogs petistas continuam a veicular.
Lula conseguiu o prodígio de só estar com a reputação suja junto aos eleitores que não têm por ele a mínima afinidade ética ou política.
É um cenário plenamente favorável à teoria da conspiração segundo a qual “nós” somos as grandes vítimas, enquanto os ladrões são apenas “eles”.
Essa maneira de apresentar os fatos poderia esbarrar no obstáculo de uma liderança moderada do PT, o senador Humberto Costa (PE), que disse na recente entrevista à revista Veja, que seu partido precisa admitir que praticou a corrupção, “pedir desculpas à sociedade “ e abandonar a denúncia obsessiva do “golpe” que Dilma teria sofrido.
O senador vem sendo crucificado pelo conjunto das esquerdas nas redes sociais, sobretudo pelo PSOL – ironicamente, um partido de ex-petistas que deixaram o PT na época do Mensalão.
Em meio a essa tempestade, no espaço de discussões internas e troca de ofensas da esquerda, adivinhem quem tirou a lição de um pedacinho daquilo que Humberto Costa propõe? Pois foi o próprio Lula.
Isso porque, em vídeo divulgado na semana passada, pela primeira vez ele deixou de falar em “golpe” e usou a palavra “impeachment” ao se referir à deposição de Dilma Rousseff.
Essa pequena guinada retórica indica que Lula se dispõe a tentar diminuir a rejeição que possui entre os brasileiros para tentar operar com uma nova base de eleitores. Inclusive uma parte daqueles que eram favoráveis ao afastamento de Dilma.
É algo muitíssimo esperto. E compreensível. Mesmo aqueles que acreditam que Lula foi péssimo para o Brasil jamais acreditaram que ele não fosse um excelente político.
É aí que mora o perigo.
FOTO: Marcelo Camargo e Wilson Dias/Agência Brasil