Discurso de Dilma gera pouco impacto e decepciona até petistas
A presidente afastada bateu basicamente nas mesmas teclas com as quais procura se defender desde dezembro de 2015, quando começou a tramitar o processo na Câmara dos Deputados
O esperado depoimento de Dilma Rousseff, nesta segunda-feira (29/8) no Senado, acabou gerando pouco impacto e desapontou aliados petistas que acreditavam num forte apelo emocional capaz de reverter a votação do impeachment.
A presidente afastada, nos 44 minutos em que ocupou a tribuna, qualificou o presidente interino de "usurpador", disse estar diante de "um golpe parlamentar" e afirmou que seu afastamento corresponderia à decretação de sua morte política.
Dilma bateu basicamente nas mesmas teclas com as quais procura se defender desde dezembro de 2015, quando começou a tramitar o processo na Câmara dos Deputados.
Atribuiu a crise econômica a fatores externos, negou ter praticado as pedaladas fiscais (uso dos bancos públicos para programas que não dispunham mais de dinheiro do Orçamento) e reiterou ser inocente.
Ao ser sabatinada pelos senadores - os inscritos chegavam a 51, às 18h30 - a presidente afastada procurou se esquivar quando se tratava de um integrante da base aliada de Michel Temer ou, então, a discorrer sobre os feitos que atribui a si mesma, quando interpelada por aliados seus.
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A pergunta mais técnica foi feita pelo senador Antônio Anastasia (PSDB-MG), relator do processo nas duas comissões mistas criadas sucessivamente pelo Senado.
Ele resumiu o lado técnico das pedaladas - em torno de R$ 85 milhões na conta corrente do governo com os bancos públicos há dez anos, contra R$ 56 bilhões no final de 2015.
Em resposta, Dilma afirmou que tais gastos encontravam como contrapartida a diminuição das receitas da União, diante da crise mundial na opinião dela desencadeada pela queda nas cotações do petróleo.
Aécio Neves (PSDB-MG), com quem ela disputou em 2014 o segundo turno, a acusou de ter mentido durante sua segunda campanha presidencial sobre a situação fiscal do país.
A Magno Malta (PR-ES), que também a acusou de mentir, Dilma respondeu que "não tem bola de cristal" para prever o futuro.
O apelo à mobilização, feito pelo PT e aliados, surtiu muito pouco efeito. Do lado de fora do Congresso, os apoiadores de Dilma eram perto de 300 quando ela começou a discursar e chegaram a um máximo de 450, antes de se dispersarem por volta do meio-dia.
A presidente afastada levou 18 convidados para assistirem seu discurso de defesa e as interpelações dos senadores. Entre os presentes, o ex-presidente Lula e o cantor e compositor Chico Buarque.
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CRÍTICAS
No intervalo da sessão em que a presidenta afastada Dilma Rousseff apresenta sua defesa no julgamento do impeachment, o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), afirmou que, apesar das críticas dela ao governo Temer e a parlamentares governistas, o voto dos senadores não deve mudar. "Pode comover alguns lá fora, aqui dentro não", afirmou.
Senadores favoráveis ao afastamento definitivo de Dilma dizem que ela deu respostas muito técnicas e que, até então, não está sendo convincente em seus argumentos para desmontar a tese da acusação de que cometeu crime de responsabilidade.
Após a defesa de Dilma Rousseff, a primeira a falar a favor do impeachment foi a senadora Ana Amélia (PP-RS). Ela disse que, por mais dolorosa que seja, a função de julgamento irá cumprir sua obrigação e criticou a classificação feita por petistas de que o processo é um golpe. Segundo ela, foram praticados crimes fiscais que têm as digitais de Dilma e a intenção eleitoral.
Segundo a senadora do Rio Grande do Sul, que já esteve na base aliada do governo durante o primeiro mandato de Dilma, a presidente afastada foi autora do "descontrole fiscal" vivido pelo país.
Ela ainda afirmou que todos os direitos de defesa foram assegurados a Dilma pela Justiça e que sua presença no Senado legitima o fato de não se tratar de um golpe.
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Ao rebater as observações, Dilma falou da diferença daquilo que classifica golpe hoje para o golpe militar de 1964.
"Não podemos achar que a mesma análise que se faz para o golpe de Estado, baseado na intervenção militar, é a mesma para o que toda a literatura política chama de golpe de Estado parlamentar. No golpe militar, é como se derrubássemos uma árvore, derrubando o governo e o regime democrático", afirmou.
*Com informações de Agência Brasil
FOTO: Marcelo Camargo/Agência Brasil