Campanha paulistana começa morna e com mistura de imagens
Marta Suplicy (PMDB) e Luiza Erundina (Psol) disputam com o candidato à reeleição Fernando Haddad o que sobrou da herança eleitoral do PT
Com as novas regras para a campanha municipal deste ano, os candidatos saíram às ruas nesta terça-feira (16/08), mas só depois de dez dias é que começará o horário eleitoral de rádio e TV.
É uma vantagem. Em lugar de se lançarem por meio da imagem edulcorada pelos marqueteiros, eles demonstram por suas agendas iniciais a forma que escolheram para seduzir o eleitor.
Vejamos o caso paulistano. Fernando Haddad (PT), Marta Suplicy (PMDB) e Luiza Erundina (Psol) estrearam como se fossem todos petistas, condição que beneficia ou prejudica apenas o atual prefeito em busca da reeleição.
Marta quer ser lembrada pelo que fez como prefeita de São Paulo (2001-2004). Seu primeiro compromisso foi uma visita ao CEU (Centro Educacional Unificado) do bairro de Guaianases, na época um cartão postal de sua gestão.
Ela teria outros trunfos para exibir. O maior deles foi a instituição do bilhete único, que permite ao usuário a utilização do ônibus, metrô e trem urbano com o pagamento de tarifa reduzida.
Ela também procurou se blindar das críticas que receberá, como a instituição de uma taxa para a coleta do lixo que já estava embutida no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Declarou recentemente que se arrependeu.
Marta, hoje no PMDB e com 16% das intenções de voto, foi eleita quando o PT dispunha de uma forte implantação eleitoral nas periferias.
É algo que aquele partido perdeu. O problema dela será, então, de forçar um “recall” de imagem que, hoje em dia, a precária estrutura petista não conseguiria construir em favor de Haddad.
O instituto Datafolha fornece do atual prefeito uma imagem mais elitista, com forte implantação nos bairros de classe média. Ele aparece com apenas 8% das intenções de voto. A periferia está hoje com Celso Russomanno (PRB), que encabeça as pesquisas com 25%.
Há quatro anos, Russomanno também saiu à frente e manteve a dianteira até dez dias do primeiro turno. Mas chegou em terceiro lugar – atrás de José Serra (PSDB) e do próprio Haddad -, depois da infeliz ideia de desfavorecer os mais pobres por meio de tarifas de ônibus mais altas para os que moram mais longe do centro.
Russomanno abriu na terça sua campanha justamente numa dessas periferias, a Vila Itaim, na Zona Leste. Acusou o atual prefeito de displicente na prevenção às enchentes da região. E apresentou uma proposta de aparente bom fôlego.
Quer criar aplicativos para que os moradores dos bairros expliquem seus problemas ou – caso de Vila Itaim – fotografem as placas de veículos que despejam lixo ou entulho nas ruas e no leito dos córregos que transbordam e provocam enchentes.
Em sua página na internet, ele promete voltar atrás na decisão do atual prefeito que reduziu a velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê.
É uma questão que deverá esquentar durante a campanha, colocando Haddad contra o muro. É verdade, como diz o atual prefeito, que as grandes metrópoles diminuíram os acidentes ao reduzirem drasticamente a velocidade dos veículos.
No caso paulistano, no entanto, os números demonstram que essa redução ocorreu sobretudo pela circulação de número menor de veículos, em razão da recessão econômica. Os acidentes caíram na malha rodoviária estadual e em municípios que não mexeram na velocidade máxima.
A questão também foi levantada por João Doria (PSDB), que abriu sua campanha na região central e deu declarações contra o prefeito e as duas ex-petistas que estão no páreo.
Ele afirma que adotará no município os critérios que permitiram seu sucesso no campo empresarial. É um argumento fácil e que renderia votos, por mais que as analogias sejam menores que as diferenças nesse tipo de comparação.
Doria fala em privatizar o Pacaembu, as faixas exclusivas e outros tópicos do patrimônio público que passam a ser vistos como ativos dispendiosos.
Mas voltemos a Haddad. Numa campanha de recursos mais magros, pelo fim das doações de empresas, com o peso de um PT nacionalmente enfraquecido e a reputação minada pela Lava Jato, o atual prefeito tem sua administração como cartão de visitas.
Mas é um cartão de conteúdo ambíguo. As ciclovias encantaram a classe média que não as utiliza para o trabalho, os estudos ou o lazer. Não é, portanto, uma forma “revolucionária” de mobilidade urbana.
Seus balanços são mais magros em creches, saúde e habitação, sobretudo porque há quatro anos fez promessas com base em recursos que seriam repassados pela União, mas que ficaram na promessa em razão da recessão e da queda da arrecadação federal.
Luiza Erundina, com 10% das intenções de voto, é a terceira candidata de perfil petista. Elegeu-se por aquele partido em 1988 e manteve a lealdade de militantes que a apoiavam por seu esforço de descentralização administrativa – com muito poder aos conselhos setoriais – e pela energia com que removeu habitações precárias em áreas de risco.
Mas o eleitor típico da hoje candidata pelo Psol é bem mais velho, misturando a ideologia que em parte evaporou dentro do PT com a ideia de que a verdadeira população do município é formada por segmentos de excluídos que a administração deve privilegiar.
Não é então por acaso que, já em seu primeiro dia de campanha, Erundina tenha privilegiado em declaração os moradores de rua.
Os dois problemas básicos da campanha de Erundina: pouco tempo de exposição na rádio e TV e impossibilidade de participar dos debates, já que seu partido não atinge o mínimo de deputados na Câmara para se situar, pela reforma eleitoral de 2015, como participante automático.
É uma longa história, na qual o Psol acusa Dilma Rousseff e o deputado Eduardo Cunha como cúmplices da segregação aos partidos menores.
São também as dificuldades de Ricardo Young, candidato a prefeito pela Rede Sustentabilidade, o partido de Marina Silva.
Sem uma forte imagem junto à população, o atual empresário e vereador cumprirá ao menos o papel importante de evocar os problemas da cidade sob ângulos que passam despercebidos às forças políticas tradicionais.
FOTO: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL