Campanha para prefeito de São Paulo já começa embolada
Celso Russomanno (foto) lidera no Datafolha, mas pode deixar a corrida por decisão judicial. Sobrariam Marta (PMDB), Doria (PSDB) e Haddad, que tem o peso do PT para carregar
Poucas vezes a sucessão paulistana começou tão indefinida. Com as convenções partidárias deste domingo (24/07), podem ser um dos dois finalistas, no primeiro turno de 3 de outubro, e para disputar o segundo turno do dia 30 seguinte, os seguintes candidatos: Celso Russomanno (PRB), Marta Suplicy (PMDB), João Dória (PSDB) ou o atual prefeito Fernando Haddad (PT).
Todos eles têm sérios problemas. O de Russomanno – em primeiro lugar no Datafolha, com 25% das intenções de voto, dez pontos a menos que no início da campanha de 2012 – é o mais grave.
Ele está encrencado com o Judiciário, por ter contratado com verba pública uma funcionária que trabalhou em sua empresa privada.
Condenado em 2014, recorreu ao STF que, confirmando a improbidade, o tornaria ficha suja e, portanto, inelegível.
Digamos que ele supere o obstáculo. Teria então outro problema com o tempo bem reduzido de rádio e TV. O horário gratuito começa em 26 de agosto. É apoiado apenas pelo PSC, PTN e PEN, tão nanicos quanto seu próprio partido.
Impossível saber até que ponto isso seria compensado pela notoriedade de Russomanno na televisão e o apoio que lhe é dado por lideranças evangélicas.
Há quatro anos, as pesquisas indicavam que Russomanno disputaria o segundo turno com o tucano José Serra.
Mas ele foi abatido em pleno voo ao lançar a infeliz ideia de tarifa de transportes públicos proporcional ao percurso, o que encareceria o bilhete para os eleitores das periferias.
Russomanno foi então ultrapassado pelo atual prefeito, na época beneficiado pela soma de três fatores: a presença insistente de Lula na campanha, os R$ 90 milhões de orçamento para propaganda e a reiteração de que seu adversário tucano não cumpriria o mandato até o fim –ele já deixara a Prefeitura para disputar o governo do Estado e, como governador, se desincompatibilizou para se candidatar à Presidência.
Mas Haddad não é mais hoje um concorrente poderoso. Ele ocupa apenas a quarta colocação no primeiro Datafolha. O PT se tornou um estorvo, e o plano de Lula de ajudá-lo a mobilizar as regiões mais carentes tem resultados por enquanto incertos.
Existem, quanto a isso, previsões contraditórias. As classes C e D, mais numerosas no eleitorado, não foram em massa à avenida Paulista para pedir o impeachment de Dilma. Mas, ao mesmo tempo, elas são as mais castigadas pela recessão que a presidente afastada provocou.
Ou ainda: Haddad está em primeiro lugar na rejeição e se desconhece o tamanho atual dos chamados movimentos sociais, desidratados pelo fim do financiamento federal.
Por sua vez, aparentando ter mais capacidade de cavucar votos nesse início de campanha, Marta Suplicy acumula duas vantagens.
Tem na periferia uma imagem positiva que construiu como prefeita eleita pelo PT (2001-2004). E hoje, como peemedebista, encarna correntes de forte oposição ao lulopetismo.
A isso se soma a forte possibilidade de ela ter como candidato a vice-prefeito o ex-tucano Andrea Matarazzo, cuja candidatura a prefeito, como dissidente do PSDB, simplesmente não decolou. Ele havia trocado seu antigo partido pelo PSD do ministro Gilberto Kassab.
A Folha de S. Paulo informa que estão avançadas as negociações para a chapa Marta-Andrea Matarazzo, o que obrigaria o partido da candidata a desfazer a aliança que estava sendo fechada com o PTB.
O ex-tucano daria à atual senadora um passaporte para entrar em segmentos antipetistas do eleitorado, num processo com um certo paradoxo, já que simpatizantes do antigo partido de Marta também tendem a se lembrar dela no momento de votar.
Na aliança de Andrea Matarazzo com Marta Suplicy o perdedor imediato seria João Doria, candidato do PSDB.
Escolhido pelo governador Geraldo Alckmin, em prévias que dividiram os tucanos em São Paulo, Doria procura capitalizar a reputação de um iniciante na política, desprovido dos vícios de seus antecessores.
Mas esse atributo também pode se tornar uma fraqueza. Tucanos históricos, como Mário Covas ou FHC, tinham fortes raízes nas classes C e D.
Não é o caso de Dória, que, apesar de ter costurado o apoio de dez outros partidos – o que lhe dá um bom espaço no horário gratuito – conta por enquanto com apenas o apoio de eleitores mais ricos ou da classe média.
Se fosse para pensar somente no horário eleitoral, a candidatura de Luíza Erundina (Psol) seria desde já um caso perdido.
Ela terá apenas 32 segundos por dia. Ex-prefeita pelo PT (1989-1992), ela é hoje pouco conhecida entre os eleitores mais jovens.
Mas é ao lado deles que ela afirmou neste domingo pretender construir sua candidatura, contornando o pouco tempo de que dispõe no rádio e na televisão para se consolidar pelas redes sociais.
É um raciocínio, no entanto atrapalhado pela minúscula presença eleitoral de seu atual partido de extrema esquerda.
FOTO: José Cruz/Agência Brasil